Saturday, February 23, 2019

Verdade Plena

Eu durmo a minha fartura ou a minha fome,
Não a sua!

Não tente ditar meus caminhos,
Direcionar meus passos!

Minha consciência não está à venda,
Meu coração não sobreviveria
A uma mente atormentada por valores negligenciados.

Eu sou o que me pesa!

Eu não respiro o que me envenena,
Não alimento o que furta minha paz,
Não maculo meus sentidos 
Com o que não os sacia.

Eu não furto de mim mesma
A legitimidade de ser o que se construiu 
Sobre pilares de dignidades
Que apreendi como minhas.

Se lápide eu um dia tivesse
Não jazeria sob ela
Nada mais do que minha verdade plena. 

EmmyLibra
Fev 20, 2019 - 9:57 a.m.

Thursday, February 07, 2019

Audácia

O mundo não é feito de pessoas que passam a vida inteira debruçadas na janela, olhando a banda passar!
O mundo é feito de quem sai da sua zona de conforto para lançar-se em zonas de confronto.
É feito por pessoas que não têm medo do novo, que gostam de desafios, de produzir o que ainda não produziu, de tentar o que ainda não fez antes, de ousar... mesmo quando o medo de falhar possa estar habitando algum recanto da sua alma.
Mas o mundo não é feito só por destemidos, de modo nenhum!  Ele é feito por quem não precisa ignorar os inevitáveis temores para alcançar algo além do que já estava em suas mãos.  Temem, mas não congelam diante dos medos, diante da vida.
O mundo é construído por quem não tem remorsos, mas sonhos.  É feito por quem olha para a frente mais vezes do que olha para trás. E por quem substitui os preconceitos por um desejo perene de aprender e que sabe que apreender significa passar a saber, reconhecer, aceitar o diferente, o novo, o inabitual.
O mundo não é feito por bélicos.  Ao contrário, belicosidade destrói.  E apenas isso: destrói!
Não confunda coragem com covardia. Não confunda coragem com violência.  Não confunda coragem com imprudência.  Coragem é algo grandioso, que se parece com uma árvore frutífera de tronco forte e sombra abundante.  Sob suas folhas, podemos nos alimentar e descansar, viver e sentir tranquilidade.
O medo nos faz esfomeados, como se a árvore da coragem tivesse pés e pudesse andar por toda parte, mas nós estivéssemos enraizados num solo duro e ressecado, sem poder segui-la para gozar de seus frutos e proteção.
Mas muitos confundem a coragem com crueldade. Outros confundem o medo com covardia. O mundo, certamente, não é feito por esses!
A vida se constrói dia após dia, instante após instante, de decisões, escolhas, sins e nãos que dizemos e que nos fortalecem, às vezes, e nos fragilizam n'outras.  A vida se constrói de cada palavra que proferimos, de cada ato que praticamos.  E o mundo se faz de vida. Vida real, dinâmica, crescente.
O mundo não é feito por quem crê na história como sendo a melhor conselheira.  É feito por quem consegue, a despeito da história, construir o novo.


EmmyLibra
Dec 14, 2012 - 4:37 p.m.


Abraços

Abraços são poemas de corpos,
Em sutil e silenciosa linguagem.
Mais verbal do que todos os possíveis verbos
Que venham a ser significantes
Das ações que o coração é capaz de promover,
Entre almas que se encontram
Para os recitais mágicos
Da vida...

Emmylibra
Jan 11, 2019 - 11:40 p.m.

Rose

Uma beleza súbita
E inexplicavelmente doce.

Algo que nos acorda
E depois acalenta.
Como aqueles sonhos que, por instantes,
Nos arremessam noutra vida
Surreal
E plena de significados,
Mas depois nos acordam no meio da noite,
Com sabores pairando sobre a língua
E odores permeando nossas narinas ansiosas...

Uma beleza súbita
E inexplicavelmente doce.

Nos inspira poemas,
Cânticos
E silêncios.

Como aqueles momentos
Em que queremos dizer tanto,
Mas as palavras se mostram 
Absurdamente supérfluas...

EmmyLibra
Dec 5, 2015 - 11:57pm


À noite


À noite, todas as dores ficam mais agudas,
Todas as febres ardem mais quentes
Todas as angústias sufocam mais fundo,
Todas as saudades latejam mais vivas.

Quando a escuridão toma o espaço,
Todos os dissabores da vida intensificam-se,
Multiplicam seus efeitos, incomodam.

É a hora em que os silêncios 
Falam mais alto dentro de nós
E nossos gritos surdos fazem-se ecoar em nossa alma,
Acordam nossos temores, nossos sentidos,
Evidenciam nossas lacunas, descobrem nossas feridas.

Sob o breu que se derrama desde o Ângelus,
As lembranças dos adeuses, esses cruéis momentos de dor,
Ressoam em nossos ouvidos,
Como numa repetição constante, insistente.

A noite, refúgio dos amantes que se ocultam em suas brumas,
Escarnece daqueles em cuja solidão
Habitam desejos e memórias de suores e salivas,
De momentos sôfregos de paixão e ousadia.

Ela ri dos sofredores, zomba dos desiludidos!

Mas a escuridão que nenhuma lâmpada consegue aclarar
Não é aquela que a noite encerra,
Mas a que envolve corações e provoca lágrimas
Nesses muitos sofredores e desiludidos
Que, à noite, jazem inconformados e saudosos
Em seus leitos solitários.

EmmyLibra
Jan 15, 2015 – 9:12pm

Bom Senso


No espaço que há entre o preconceito e a veneração, moram a saúde das relações, a isenção das escolhas e o equilíbrio dos sentimentos.

Quem busca essas três dádivas, deve abster-se de caminhar no terreno pernicioso das ideias pré-concebidas sobre as pessoas e coisas, bem como fugir do movediço terreno das paixões que embriagam. 

No primeiro campo estacionamos, congelados pelo medo do que pensamos conhecer; no segundo nos perdemos nas ilusões de perfeição do objeto da nossa estima, pois é condição inatingível para meros mortais.

Caminhar longe desses extremos é tarefa que exige de nós bom senso e constante vigilância.

EmmyLibra
Apr 27, 2015 – 1:46pm

Monday, February 04, 2019

Um verso

Eu queria um verso, uma canção,
Qualquer coisa que dissesse de mim
Para falar aqui.

Mas não há.

Quando a cabeça não pensa
E a boca age conforme seu desejo
Quando vive o lábio uma palavra
Ou um beijo
Quando por ele foge a sensatez
E entram prazeres irrestritos,
Erros irremissíveis,
Sofre o corpo, a alma, a vida
A vida inteira sofre!

A vida passa a caber num instante
De arrependimentos e medos
Da pesada carga de dor
Que abraçamos, quase nunca sem saber.

Não há inocência.

Não há inocências!
Nem mesmo acasos há
Ou qualquer coisa
Que acalente o sono
E abrande o pranto
Nas noites e dias
E nas vidas que seguem.

Nada calará aquela voz incômoda
Dentro da cabeça,
Para que o sono venha
E para que os sonhos
Povoem de estrelas uma vez mais
O céu interior, agora rubro
De sangue e tintas escarlates.

Nenhum fogo lamberá remorsos
A não ser aquele que a eternidade
Inexoravelmente trará.

Nada extinguirá a dor!

Eu só queria um verso
Triste que fosse, tanto faz!

Apenas um verso
Que dissesse de mim,
Da minha cela de paredes pichadas
De impropérios tantos,
De mensagens vindas do inferno
E de silêncios acusatórios.

Eu só queria um verso.
Um verso apenas,
Mas que pudesse traduzir minha alma
E convertê-la em som,
Ainda que fosse o som grave,
Doloroso e fúnebre
De um réquiem sagrado.

EmmyLibra
Jan 17, 2019 - 8:41 a.m.

Uma carta para Vitor*

É, Vitor, eu acho
Que as coisas deram errado!

Sabe aquela planta sagrada
Que você plantou no jardim?
Os frutos não foram bem aqueles
Que você tanto sonhou.

O solo estava doente
Nele havia larvas-gente
Que infestaram sua lavoura!

Queria saber o gosto
Daquele fruto esperado?
Eu vou lhe dizer
O gosto que ele tem:

Tem gosto de chumbo,
Tem gosto de bala perdida,
Tem gosto de sangue escorrendo
E de soro 
Em corredor de hospital superlotado.

Tem gosto de miséria aquele fruto!
Tem gosto de passar fome,
Tem gosto de indignidade,
De esmola que faz eleição.

Tem sabor tão amargo, Vitor!

Tem sabor de morte, o fruto
Que você plantou.
De morte que se morre aos poucos,
Como aquela severina,
Da qual falava o poeta.

Ah! Vitor! Como aquele sonho
Parecia bonito de sonhar!
Como aquela lavoura, por um breve instante,
Encheu de verde o nosso olhar!

Mas depois, ou daltônicos viramos
Ou era nosso sangue que tingia
As folhas, o tronco, a terra, tudo!
Pois sua lavoura perdeu o verde
E com ele a esperança.

É, Vitor, vocês deixaram de herança
Aos nossos filhos e netos
A terra esturricada e árida
Do desamor.

Talvez você nem soubesse
A quem sua voz servia.
Talvez você só quisesse
Nos dar alguma alegria.

É, Vitor, eu diria
Que o sonho do qual você falava
Era apenas utopia.

EmmyLibra 
Dec 28, 2018 - 10:51a.m.


°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
* Texto adaptado em Fev 5, 2019, a partir de uma importante observação feita pelo meu querido amigo Beto Lacerda, profundo conhecedor da música brasileira, que me chamou atenção para um detalhe crucial: a música à qual respondo no poema tem apenas melodia do Ivan Lins. A letra é do Vitor Martins. Portanto, foi uma "Carta ao Vitor" que eu escrevi, não ao Ivan.
Correção feita!
Gratidão ao Beto pelo esclarecimento, mas sobretudo pela disposição em ler e apreciar meus textos, que não são grandes obras literárias.