Ser uma outra pessoa no palco, diferente da pessoa da vida real - essa do cotidiano, que faz o almoço e lava o chão do quintal - é imprescindível!
Há quem não entenda. Há quem não pense nisso. E há quem pense que a das luzes, com microfone na mão, seja a única pessoa que me habita.
Mas, quem iria ver a pessoa que arruma a casa, limpa a caixa de areia dos gatos, lava roupas e faz compras no supermercado?
A Emmy que sobe ao palco é muito mais interessante!
Ela chega onde a dona de casa jamais chegaria.
É sedutora, às vezes. Engraçada, às vezes. Parece até que está falando individualmente com cada expectador!
E não está?!
"Ora, ora! Se não era para mim que ela apontou, quando disse que não me divide com ninguém, enquanto cantava 'A Loba', da Alcione, para quem mais seria?"
Fico feliz, porque nessas horas, consigo fazer as pessoas sentirem-se dentro do espetáculo, fazerem parte, sonharem...
Alguns pedidos de casamento eu precisei rejeitar, por motivos óbvios! - afinal, a que se casa é a que faz o almoço e limpa a caixa de areia dos gatos, e, por sinal, já se casou!
Os abraços sempre me aquecem, e o calor afetuoso que vem deles fica em mim, dentro de mim, como chama que consome a mesmice dos dias de lavar louça e me mantém viva, até o próximo palco.
Alguns elogios me deixam saber que estou fazendo bem o meu trabalho.
Mas, em absoluto, nada se compara à lágrima emocionada, num rosto extasiado em meio à multidão!
Esse é o presente especial de Deus, em uma ou outra data em que geralmente saio de casa sem propósitos maiores, mas me deparo com uma alma diferenciada a encontrar-se com a minha, nessa providência divina que me dá sentido, através da arte para a qual Ele, o Criador, me preparou.
Algumas vezes eu senti a transcendência de tocar um coração e segurá-lo entre as minhas mãos, num peito aberto, rasgado, exposto, molhado de lágrimas sutis...
Não tem preço!
Ainda um dia desses, há pouco mais de dez anos, eu não preveria viver esses momentos que me imortalizam dentro de uma lacuna mágica no tempo, e fazem toda a espera de uma vida valer a pena.
Quanto valem esses momentos?
Valem tanto...
Nascem de uma introjeção de sentimentos quase sempre alheios e emoções que nem sempre são minhas, mas que alguém, ao compor sua arte, deixou ali, como uma nascente a me fartar de suas águas inspiradoras.
A empatia me norteia e alguma alma me acolhe.
Eu nunca sei quando virão pedidos de casamento ou abraços mornos, muito menos quando cairá uma lágrima.
Não me preparo para isso tudo. Mas colho cada gesto como frutos doces num pomar ensolarado e me alimento deles.
A Emmy que sobe ao palco repousa na pessoa comum do cotidiano. A pessoa comum do cotidiano ainda respira porque a dos palcos um dia nasceu.
Fazendo minhas as palavras do Gonzaguinha, "Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda que, palavra por palavra, eis aqui uma pessoa se entregando... Tudo que você ouvir... Estarei vivendo."
Para quem não me conhece, sou Emmy Matias.
Bora de música?
;)
EmmyLibra
Jun 10, 2014 - 9:12 a.m.
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