Saturday, April 10, 2010

Inutilidades




Gosto de sentir o seu cheiro, seu gosto,
Gosto das coisas vulgares que fala ao meu ouvido enquanto me ama
E das coisas inúteis que fala depois,
Quando as primeiras já cumpriram seu papel.

Gosto do seu jeito grave e sério ao falar da vida
E do jeito moleque e desleixado quando a vive.

Gosto do beijo roubado, me jogando contra as portas
Das lojas já fechadas, e da escuridão da noite
A ocultar o que o barulho escandaloso já denunciou.

Gosto do beijo morno e suave quando se vai
E do beijo desesperado e urgente quando volta.

Da sua pressa em me contar seus sonhos
E da sua calma em escutar meus pesadelos.

Do tempo que me dá de presente, quando me escuta
E das palavras com que me aquece, quando fala.

Gosto da liberdade que tenho
E de perdê-la, quando me sinto propriedade da sua alma.

Gosto do amor que sinto, porque me faz viva, me alimenta,
Me dá certezas de que não existo em vão.

Fui feita para todas essas coisas de que o amor se compõe:
Desejo, tolerância, dor...
E respiro o mistério das inabaláveis certezas
Que o seu coração grita, mesmo quando seus lábios mentem.

Sinto-me plena de amor - não do meu próprio amor por você,
Mas do amor que você sente, desde quando ainda não sabia
O que era amar.

Sinto-me plena de amor.

Mas, ainda vivendo do lirismo de saber-me amada,
Adoro seu cheiro e as palavras depravadas
Quando seu corpo está dentro do meu e seu coração grita
O que a sua boca um dia mentiu aos meus ouvidos
Dentre as muitas coisas inúteis que já me disse,
Depois que as primeiras palavras cumpriram o seu papel.

Gosto da sua verdade, medrosa de si mesma.

Mentiras são inutilidades. Um dia, o coração as desmente.


EmmyLibra
april 13, 2009