Wednesday, June 01, 2016

Mimimi


Estamos na era do "mimimi". Viver em sociedade nunca foi tão chato! =(


E eu, que sempre disse "jamais desisto do ser humano", muitas vezes envergonho-me de fazer parte dessa classe de animais. O ser humano desses tempos atuais anda muito pobre de si mesmo, muito cheio de inutilidades, futilidades, sorve valores alheios como quem sorve café morno de manhã. Impregna-se de ideologias, escraviza-se, deixa de pensar pela própria cabeça para seguir a manada, esteja ela indo aonde quer que esteja, sem sequer questionar o seu destino final - se é que há um... 

Acho que nunca involuímos antes. Hoje, no entanto, assisto a humanidade declinar do sagrado direito de caminhar para a frente, e anda em "marcha a ré". 

Vejo pessoas estagnadas e outras regredindo, vejo valores se perdendo em meio a discursos inflamados, persuasivos, proferidos pelas poucas - e perversas - cabeças pensantes que ainda restam, e que ocupam lugares de destaque, não em busca de melhorar o mundo à sua volta, mas de ter maior raio de domínio sobre os tolos que se permitem hipnotizar pelo seu eloquente discurso do "politicamente correto" que, à prova dos nove, só nos corrompe e nos cega, não nos torna melhores.

O ser humano já foi bárbaro, bruto. Entrou numa era de intelectualidade que o fez ver as normas sociais como um bem, uma conquista. Viver com o outro já não se baseava em violências cegas e gratuitas, nem em complacências e submissões irracionais. Poderia pensar antes de agir. E caminhava para esse padrão de comportamento, quando parece ter saído de sua rota e entrado em tortuosos caminhos de egoísmo e medo.

Ao invés de alimentar o desejo de saber, ao invés de refinar os convívios, ao invés de melhorar o acesso às justas formas de resolver conflitos, nossos contemporâneos preferem o retorno à barbárie, talvez porque ela dá audiência na tv, quinze minutos de (má) fama - que importa? Ela vende jornalecos vagabundos de linguagem chula, que, se não respeita nem a gramática, por que respeitaria os leitores? 

A humanidade hoje prefere acomodar-se e esperar que alguém lhe dê respostas prontas, sem medir que respostas prontas nem sempre nos levam à verdade, mas geralmente ao desejo do outro de que jamais cheguemos a ela e continuemos pequenos, cerceados, limitados, pobres. As pessoas preferem choramingar vitimismos, ao invés de assumir a responsabilidade sobre os próprios atos e andar de cabeça erguida, sobre os saltos altos da autonomia. Acham caro ir buscar o que lhes falta, acham cansativo. Ficam de boca aberta, esperando que caia do céu algum manjar que lhes alimente. Caem as migalhas das informações que os grandes nos permitem acessar e achamos que estamos "muito bem, obrigado", porque pensar pela própria cabeça exige esforço. Engolimos tudo como verdade.

Uma pena, tudo isso.

Estávamos, algumas décadas atrás, inclinados a encontrar meios justos de se coibir o mal. Hoje o praticamos sob o aplauso dos poderosos que casam suas altas apostas em câmbios que desconhecemos, sobre quanto tempo ainda nos resta antes que nos tornemos os zumbis disformes que eles desejam, para obterem total domínio sobre nossas vulneráveis mentes.  
Enquanto digladiamos, uns contra os outros, repetindo as palavras e jargões fast-food que nos deram para engolir nos seus discursos hipnóticos, eles nos assistem do alto de seus pedestais de poder, rindo da nossa ingenuidade e preguiça intelectual.

Humanidade. Palavra bonita, não é mesmo? Infelizmente, tem horas que eu nem a reconheço em muitas pessoas. Porque ser um Ser Humano, na raiz da palavra, é ser bem mais do que essa onda de marias-vão-com-as-outras que assistimos. Mas, isso é muito grave! Não reconhecer traços de humanidade em alguém é muito grave e triste...

Como diria Bauman numa hora dessas, eu mesma perco minha humanidade quando não enxergo a do outro que passa por mim. Me "coisifico". Me torno algo. E algos são sempre passíveis de obsolescência, de descarte, de ser lixo.

Nunca estive tão próxima de ser ninguém, como agora. Nunca me senti tão disconforme com o meio, como agora. Nunca estive tão à beira do abismo da indiferença, como agora.

Só que não consigo pedir desculpas pela ojeriza que sinto, pelo desprezo que me despertam as pessoas de alma pequena, vitimistas, fracas, escravas. Sinto verdadeira repulsa por elas!

Se chamarmos isso de pecado, estou convicta de que o mimimi que está na moda ainda me levará ao inferno!

EmmyLibra

Jun 1st, 2016 - 11:41 a.m.