Friday, January 26, 2007

Diamonds r 4ever!



I found a diamond
under my bed this morning!


(jan 23, 2007)


[To my lovely friend Hood, a very special diamond for me!]

Monday, January 22, 2007

“Eu esperava um oceano, e és um riacho de Amor” (*)

Ligo o rádio, me sentindo meio sonolenta pela aurora ainda recente, e essa frase, recitada por voz masculina, me vem aos ouvidos, como um convite à meditação: “Eu esperava um oceano, e és um riacho de Amor”
Não sei como se sentia o poeta quando compôs o texto — que seguia cantado ao som de um violão —, até porque não me detive em ouvir o que mais dizia a canção. O impacto da frase em mim foi decisivo: “Eu esperava um oceano, e és um riacho de Amor”
— Desilusão, decepção? Não. Talvez represente os anseios humanos, quando construímos nossas ilusões sentimentais e nos deixamos abrasar pelas paixões. Esperamos do outro, às vezes, um quê de grandeza, de divindade amorosa capaz de sufocar, de matar, se preciso, para provar a grandiosidade do sentimento. Deseja, numa torpe expectativa, ser amada a criatura por algo tão gigantesco quanto a Generosidade Criadora desse Universo sem fim.
Mas o que há de concreto no Amor? — Nada. Nada palpável ou sufocante: apenas gestos e pequenez, coroados de uma serenidade doce e fortificante; um alimento puro e fértil a gotejar, a escorrer por dentro, tão lenta e silenciosamente que aquece ao mais brando raio de sol da primavera; uma fonte inesgotável de vida que, se for devidamente protegida, converte-se em eterna bondade a nos aplacar a sede e nos saciar a fome.
Assim é o Amor: como um riacho sereno e eterno, alimentando as gerações, refrescando nossas carências, batizando-nos e purificando-nos, cobrindo nossa “multidão de erros” e acertos com seus longos e inesgotáveis veios.
Cabe-nos curvar nossas cabeças e deitar nossos joelhos ao solo, estender as mãos de modo receptivo e guardar nossa humildade em esperar não mais do que o frescor de suas preciosas gotas.
Mas somos, geralmente, tão covardes... Assistimos o escoar tranqüilo do Amor em nós, sem a atitude de lavar nossas almas em seu reconfortante leito! E atiramo-nos, impacientes, nos abismos profundos e escuros das paixões que nos afogam e desequilibram com suas ondas e marés, e que, por fim, sempre nos atiram em solitárias areias, sob o escaldante calor do sol, sem sequer nos dar de beber.
As paixões, assim como os oceanos, têm a beleza, a grandeza, a força, a profundidade e o sal - este complemento que envenena-nos e nos faz morrer de sede, quando tentamos beber de sua essência.
Tortuosos são os caminhos do riacho, mas é nas suas margens que os pássaros cantam à tardinha, na hora do sol se pôr.



Aug 13, 1999
7:34 a.m.


* Não tenho informações quanto à autoria da música mencionada. Se alguém souber, por favor, põe no comentário. Tão logo eu saiba, prometo, altero o post. ;) Obrigada e bjos a todos!


Thursday, January 18, 2007

"Fêmea, puro sêmen da paixão..." (F. Jr.)


...e Deus fez-me mulher. Com todas as qualidades e defeitos, Ele fez-me mulher. Com todas as qualidades e desejos, fez-me fêmea, e deu-me a impaciência e a força femininas e um coração cheio de lágrimas que justifiquem a expressão "sexo-frágil".
Deus fez-me mulher. Deu-me o equilíbrio e a eloquência tipicamente femininas, para serem donas de minhas idéias. Mas soldou ao meu coração um segundo coração, e também um terceiro e outros tantos, todos flamejantes de paixões e sofreguidão, para incendiar os caminhos que eu haveria de percorrer nesta jornada.
Fez-me dona e escrava de meus impulsos, criou-me para sonhar e para morrer; fez com que desenhasse meus pés no chão macio da razão, e que os torturasse sobre os espinhos de minhas inconsequências; que amasse e odiasse a mim mesma, nos meus momentos de lucidez, quando esses estavam precedidos por impulsos felizes. Porque toda mulher é louca, quando feliz; toda mulher é santa, quando chora; toda mulher é bêbeda, quando sonha. Toda mulher é imoral, quando ama.
Sou uma alma sem nome, sem sexo, sem aparência. Ganhei um corpo e este é feminino. Às vezes, correspondo aos meus impulsos; n'outras, corto minhas amarras com o punhal dos meus excessos. E esse mesmo punhal que me liberta fere minhas mãos, meu peito, minha vida. Leva meu coração primeiro a um abismo e lança-o numa queda livre sem fim; despedaça o segundo em mil partes ínfimas e causa dor aguda em meu ser; sufoca meu coração terceiro entre minhas lágrimas e dores, matando em mim um pouco do meu auto-amor; e aprisiona os demais, para ter garantia de meu retorno aos pés da inocência, rogando seu perdão.
É... Deus me fez mulher, dessa vez. E deu-me uma pequena migalha de sua sabedoria e uma grande porção das imoralidades e medos humanos. Fez-me carregar o privilégio da vida no ventre e o desespero da morte nos desejos. Cultivou em mim o belo e o feio e deu-me este corpo, fêmeo corpo, que recebe a luz para os seres que chegam através de mim e que semeia pesadelo às minhas noites quentes. Que me dá o prazer e a insatisfação, que me faz essência e resto de mundo. Me faz sensual e obscena e permite em mim o afago e a tortura num só abraço.
A indecisão e o medo me machucam e atrasam minhas conquistas. Os arroubos de minha natureza impaciente me fazem tropeçar na pressa das atitudes mal-ponderadas. Me delicio com as vitórias que alcanço e mais ainda com meus fracassos. Assisto minhas quedas com aplauso, porque me custa crer que o desejo e a felicidade estejam, em algum momento da vida, ao alcance de ambas as mãos de uma criatura que nasça fêmea. Seria perigoso demais! E o Criador do céu e da terra sabe disso.
Disse Deus: carrega audácia em seio. Mas Ele não disse o que fazer com o encanto que separa a fêmea do Paraíso. Deu-me a água como primeiro espelho e fez um homem morrer nela, por encontrar em si encantos fêmeos. Contou meus fios de cabelo e multiplicou por eles minhas cobiças e obstáculos.
Minhas dores me constróem, enquanto meus sorrisos me fazem desmoronar. Minhas virtudes me mostram o céu com todas as estrelas, enquanto os vícios que meu corpo desfruta fecham meus olhos aos portões do paraíso. Meus desencantos me ferem e me acordam. Minhas fraquezas me acalentam e destróem, lenta, suave e definitivamente.
Há momentos em que duvido que haja mesmo um anjo de guarda a velar meu sono!

March 1st, 2000

Thursday, January 11, 2007



Invisível

Hoje eu vi uma borboleta
Ela não me viu.
Eu não faço parte do seu mundo.



Invisível II

Hoje eu vi uma borboleta
Linda!
Suas asas abertas, ao sol de uma manhã bem clara
Como espelhos, uma da outra,
multicoloridas, simétricas, perfeitas!

Ela não me viu.
Não se deu conta de mim.
Me ignorou.

Definitiva e tristemente
Eu não faço parte do seu mundo.



Invisível III

Hoje eu vi uma borboleta
Linda!
Asas abertas, como a absorver do sol
Sua luz, sua energia,
para que o seu gracioso vôo
tenha força e brilho.

Pousou no meu dedo de estátua
Mas não me viu.
Mesmo sendo eu o seu esteio por instantes
Seu ponto de apoio, seu campo de pouso
Ela não me viu.
Voou, voou, pousou, voou de novo...
Eu não estava ali - não para ela!

A minha borboleta, linda, multicor
Não enxerga senão flores
E onde não há um jardim
Ela não vê mais nada,
Ignora, visita breve
Nem sei pra que pousou
No meu dedo estendido...
Não sou flor, não tenho um jardim dentro de mim
Não faço parte do seu mundo...



Invisível IV

Havia uma borboleta
Cores formas simetria perfeição vida.
Graça leveza silêncio - poesia que voa.

Eu não estava ali
Era espectro
fantasma
ilusão
Era parte do seu silêncio, apenas

Ela não me viu
Porque eu - invisível, imperceptível
Sem sua simetria, sua cor, sua leveza
Sem sua capacidade de voar
Sem sua beleza, sem poesia
imperfeita criatura
Não faço
Nem jamais poderia fazer
parte do seu mundo - vasto mundo...


EmmyLibra, Jan 05, 2007 - 1:30pm

Wednesday, January 10, 2007

Para Nonni

Só a ti, minha pomba, eu confesso os meus pecados. Só a ti e a mais ninguém nesse mundo de meu Deus.
Só a ti eu confesso minhas fraquezas, meus desejos mais profundos, minhas iras, minhas queixas, frustrações e bem-quereres.
Só a ti, minha musa inspiradora, eu entrego o meu coração. Só a ti e a mais ninguém nessa imensidão da terra.
Quando vejo no fundo dos teus olhos, pequena Nonni, a pureza e a doçura do teu amor se mostram sem túnicas, sem mistérios. Assim como os teus erros, teus anseios e pecados se revelam sem piedade, sem brandura: nus, como vieram a ti, como vêm do fundo dos teus mistérios de dor.
Estende-se por toda a eternidade o Amor. Durará enquanto durar o sonho, enquanto durar a noite, enquanto o instante durar. Ficará em mim enquanto o Universo for meu lar.
Só a ti, minha pomba, confessarei os meus pecados... E o Amor, certamente, será sempre o maior deles.

Data incerta - Entre 1999 - 2002


My brother John / Mon Frère John


This is my brother John.. He is the most bful n kind n sweet n lovely brother some1 could have in this world! And i have. What else could i expect from life?? God gave the best brother 2 me in a very special moment of my life.

Thanx, Lord, for John!
Alhamdlellah!

Image

God bless my brother John n also bless Julie n Junias n our maman n all bross n siss we have too.

I love u! ich liebe dich! yo ti voglio bene! te amo! wo ai ni! mo ni fe! te ubesk! kocham ciebie! inaru taka! ayor anosh'ni! Tave myliu! nakupenda! aishiteru! mi amas vin! obicham te! m'bi fe! bahebak! m'tchouan! Je t'aime, mon ange, mon frère!



Eu amo muito muito muito você, meu adorado irmão!

Bisou!!

Para a ave mais linda que já voou sobre minha cabeça!



Sinto saudades de alguém que insiste em ficar escondida no passado...


Era uma velha amiga, uma ave linda, que sonhava ver suas asas crescidas, para alçar vôo sobre os campos, cerrados, vales e águas desse país imenso.

Era alguém que tinha um quê de natureza, que lhe dava um ar meio selvagem, meio instintiva, e que nos momentos mais importantes de minha vida eu sempre costumava espelhar-me em sua força para adquirir coragem e enfrentar meus desafios.

Sonhava ser grande – só um pouquinho grande! Sonhava com sua voz chegando aos ouvidos das gentes humildes que moram do outro lado do país, e que seus dedos pudessem arrancar melodias bonitas de um violão, para agradar os ouvidos das gentes de bons ouvidos do outro lado da rua. Sonhava, e em seu sonho bom, podíamos compartilhar de sua felicidade por ser livre e poder sonhar.
Ensinava a quem quisesse aprender, que a vida se constrói com obstinação, e que palavras como: longe, difícil, incapaz e inacessível são apenas frágeis paredes de tijolos mal apoiados, fingindo serem muralhas, para fazer estancar os menos avisados, que não ousam experimentar um empurrãozinho, ficando presos em seus medos, a contemplar o sol por pequenas frestas.


Sabe, eu costumava me identificar muito com sua vida. Era parte de mim furtar sua geladeira, sempre com algo doce e umas garrafas pequenas de um troço borbulhante — um tal de cooler — que nós consumíamos vendo o sol se pôr, logo adiante do morro Bom Jesus. Era parte de mim dormir ao som de sua voz, e de seus ensaios de violão e contra-baixo.

Sabe há quanto tempo não escuto Bichinho de Lã? Nem eu sei. Perdi a conta. Acho que ainda era criança quando ouvi pela última vez — ou pensava que era criança?

Era um tempo do qual às vezes me recordo com muita nostalgia... Tenho a impressão de que esta que vive hoje conosco até conheceu esse alguém de quem falo. Tem uns arroubos, vez em quando, para fazer pique-niques, coisas desse tipo, mas nada é como antes. Nada tem a mesma inocência das serras, o mesmo cheirinho de mato seco, ou as caminhadas sobre os trilhos do trem... Nada tem o mesmo valor, ou o mesmo encantamento.

Minha amiga gostava da casa, e enfeitava-a com carinho. Mas não se deixava dominar por interesses domésticos — estava acima dessas coisas pelas quais as pessoas comuns se deixam escravizar!

Corte e costura? Nunca! Seu negócio era subir num palco, cantar, varar a madrugada, dançar e, por fim, seqüestrar a guitarra do colega mais divertido, para obrigá-lo a nos acompanhar, só para ficar ouvindo suas piadas até o dia amanhecer, na mais completa preguiça de domingo!

É... Sinto mesmo muita falta de minha ave. Ela agora prefere ter uma mísera andorinhazinha na mão, do que longas asas para sair voando! Já não sonha mais com o que sonham os anjos, nem sequer acredita que eles existem, da mesma forma como antes acreditava.

E eu, que aprendi com ela a acreditar na imortalidade da alma, vejo-a hoje afastar-se de suas crenças, pela vontade alheia — e, pasmem os velhos conhecidos todos: esta foi uma façanha que nem Lili, com todo o seu autoritarismo e argumentos conseguiu realizar! Dou a mão à palmatória: isto é que é poder de persuasão!

Queria poder reencontrar esta grande amiga dos meus tempos de infância, poder falar para ela de minhas dificuldades, contar meus sonhos, levar o Marcelo para brincar em sua companhia, de vez em quando, mas eu já não a encontro mais em casa há algum tempo. Tudo está muito silencioso por lá. Só há uma outra pessoa tentando imitar seus passos, mas é alguém muito distante daquilo que ela realmente foi um dia. Muito diferente daquela que eu conhecia tão bem, e que me ensinava tanto...
Num dos nossos últimos encontros, eu lembro bem – foi precisamente em agosto de 98, ela falou: “— Mas ele não tem cara de Edu — tem cara de Marcelo!” — E escolheu, naquele momento, o nome do meu filho.


É muito raro perceber, nessa pessoa que habita sua casa hoje, alguma coisa que se pareça com o brilho que havia em seu olhar, ou com a melodia de sua voz. Eu já não sinto, há bastante tempo, aquele abraço de mãe, como naquele cruzamento, perto da maternidade, quando eu ainda chorava a partida do Raul... Já não vislumbro nos seus passos a segurança de quem sabia aonde queria chegar, e que tantas vezes eu segui, aprendendo com ela a caminhar com autonomia. Eu já não consigo mais reconhecer seu cheiro em mim, ou seu gosto musical afinado com o meu, ou seu estilo literário se confundindo com minha vontade de devorar seus textos e canções... Eu já não a reconheço mais, em meio à multidão de pessoas comuns, que se entregam à vida como quem se rende a um inimigo poderoso, contra quem se cansou de lutar.
Não sei o que será de mim daqui por diante. Creio que agora estou realmente sozinha, para pôr em prática o que aprendi, enquanto ainda em sua companhia. Não posso fungar dentro do copo, nem limpar o nariz com os dedos, ou arrotar na frente das visitas... Não devo falar palavrões, nem ser desonesta, porque isso me faria uma pessoa mal-querida. Não devo jogar lixo nas ruas, ou maltratar as formiguinhas, “porque toda formiguinha tem mãe, sabe? E ela espera que sua filhinha volte para casa para o jantar. Já pensou se mamãe nos esperasse para jantar e nós estivéssemos machucadas na rua, pela maldade de alguém?” — E tento passar essas pequenas lições de bondade para meu pequeno, talvez tentando fazer dele o que ela tentou fazer de mim, um dia...

Eu ainda pretendo refletir em meu rosto muitos de seus sorrisos, viu? Eu ainda pretendo ser ao menos um pequeno reflexo do que você representou para mim, toda a minha vida, meu canário-do-reino! Ainda lhe amo muito, mesmo estando tão longe de seu universo pessoal. Só que, às vezes, a saudade é maior, principalmente quando vejo alguma estrela diferente e lembro de nossas pesquisas com luneta, ou quando há um pôr-de-sol mais alaranjado, ou ainda quando me vêm à memória aventuras como aquela madrugada na avenida Caxangá, voltando da Marina Lima... ou simplesmente quando me pego repetindo algum gesto disciplinado por alguma daquelas velhas regrinhas de boa conduta que me ensinou.
Aí dói, sabe? Dá um aperto no peito, uma vontade que aquela ave voltasse a voar e enfeitar o céu, só pra eu ficar contemplando o brilho de suas penas ao sol...


Você nunca me disse o que fazer quando sentisse saudade.

E você também esqueceu de se despedir...

(fev 28/2001)

Metade (*) (**) - I Carta de Emmy para Montenegro


“Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor...”

(Oswaldo Montenegro)


Mas, como? Como permanecer indiferentes e não nos deixar envolver pelo tom que a sua voz imprime ao texto? Como não fechar os olhos e “rezar” junto? Como não sentir um pouco de solidão, não ficarmos um pouco apaixonados também, um pouco donos de sua voz, quando recita? Como?

“Que o medo da solidão se afaste... Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio... Que a morte de tudo que acredito não me emudeça...”

É como se justificássemos, com nossas metades doces, todas as nossas pequenas e grandes faltas: de fé, de carinho, de coragem... Como se disséssemos para nós mesmos, junto com você, que ainda estamos “inundados de (bons) sentimentos” que justificam nossa existência restrita e enjaulada pelos medos que abrigamos ou pela pequenez de nossos horizontes.

“...porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço.” - E a lágrima aí se justifica. Como se disséssemos: “Dói, está sabendo? Dói viver. Dói amar. Dói sentir!”

Eu lamento muito, meu amigo, mas não pude cumprir com o que nos pede, quando diz que 'não escutemos suas palavras como prece, nem as repitamos com fervor', pois, a cada nova audição daquele poema, eu viajo entre minhas muitas metades. E acabo chorando um pouco por dentro, acabo por me permitir amá-lo um pouco, e abraçá-lo, e sentir seu cheiro, numa insistente construção de imagens e sentidos falsos que minha mente desenha pra suprir a lacuna do abraço verdadeiro.

Eu lamento mesmo!

Acho que hoje eu realmente gostaria desse abraço que construí, para poder dizer da pequenina gota de amor que você chorou em mim há tanto tempo, quando o ouvi pela primeira vez recitando 'Metade'... Sabe, naquele dia eu desliguei o rádio e saí correndo pelas ruas da cidade, para chegar exausta à emissora e implorar que me deixassem ouvir de novo, e de novo, e de novo... Nos dias seguintes eu me deliciava com as palavras ecoando em mim, como a tradução de tantos sentimentos, tantas sensações que eu não sabia como definir! Eu levava meu coração umedecido com aquela morna gota de amor que você derramou em mim, mesmo sem saber que o fazia...

Nunca meça o sentimento pelo mercado, meu amigo. Nunca! Eu lhe tenho um amor suave e sem preço, porque vez em quando você canta pra mim, e às vezes recita, e n'outras ri. E o seu riso é lindo! E me faz plena de uma felicidade indefinível... E a sua “outra metade”, quando se descortina, me faz crer que poderei, um dia, realmente abraçá-lo para levar comigo a lembrança do seu cheiro, no lugar das utopias de outrora.

Peço ao Pai que lhe abençoe. Que conserve em seu coração uma inesgotável fonte de amor, pois o amor não envelhece nunca!

Um carinhoso beijo.

Emmy Matias

Dec 20/1999

* Carta para Oswaldo Montenegro.. Pus em suas mãos no dia 16/09/2005, pouco antes do show que aconteceu na Praça dos Martírios, em Maceió. Inesquecível momento de minha vida. Como vc pode constatar, ficou pronto muitos anos antes, mas só tive oportunidade de entregar naquela noite. Que bom que tive... Grandes sonhos morrem conosco, em gavetas empoeiradas. Eu não quis que o mesmo acontecesse com esta carta.
Bem, tarde, porém eis a "I Carta de Emmy para Montenegro"!
** Título e citações extraídos do/em menção ao poema 'Metade', do LP Trilhas, de 1977, de Oswaldo Montenegro.

Para Montenegro - II Carta de Emmy para Montenegro

Dois segundos

Dois segundos. Apenas dois segundos... Que importa? Foram dois preciosos segundos que durarão uma eternidade! Foram instantes de contentamento e realização. Era um sonho e, de repente, ali estava eu, num misterioso ritual de felicidade: um abraço.

Mas não foi um abraço qualquer, desses que a gente dá em uma pessoa qualquer, com um sentimento qualquer por ela, num dia qualquer da semana. Foi um abraço ímpar, cheio de uma emoção morna e especial; um abraço curtido durante anos e desejado como uma bênção! Foi tocar em algo que antes parecia utópico, sagrado, e que, por dois segundos sem fim, esteve entre meus braços – e era real! Foi um abraço desses que a gente cobiça a vida inteira e parece que a vida finda sem a gente abraçar, mas eis que, num revés do destino, eu me vi ali, enlaçada a um bem-querer, a um desejo encantado, a um ser que carregava em si uma aura de magia... E foi num dia que eternizarei em mim: o dia em que a utopia se fez tangível!

Ah!, a felicidade! Quão cheirosa é a felicidade! Tem um aroma que minhas mais doces ilusões por anos tentaram supor, mas que, por mais embriagantes fossem essas idéias, elas estavam ainda muito distantes da sensação agradável que aspirei e que minha memória jamais confundirá!

Dois segundos. Apenas dois segundos... Que importa? Era a felicidade. É a felicidade! E toda uma existência se justificava ali, pela felicidade. Por dois segundos que fossem, desde que da mais pura felicidade. Daquele não-sei-quê encantado que um dia desejei, e para o qual me preparei tanto, que o que pareceria aos olhos de muitos – e mesmo aos seus – como uma insignificante e insuficiente gota d’água – apenas dois segundos de abraço e o aspirar daquele cheiro – foi o bastante para ser eterno e saciar a imensa sede que senti por tanto tempo.

Dois segundos. Apenas dois segundos... Que importa? Sou feliz. E a minha felicidade nasceu no meio de uma praça cheia de gente, luzes, um palco, repórteres... Mas nasceu anônima. Como o amor que sempre senti era anônimo, como continuarei sendo eu mesma uma pessoa a mais em meio à multidão que lhe ouvia pouco depois daquele encontro – e isso me basta, pode crer! Nasceu a minha felicidade, depois de tantos anos de gestação, tanta expectativa. Nasceu, depois de tantas vezes em que a considerei abortada, em que esqueci mesmo que nome lhe daria... Num parto sem dores, urgente, nasceu, enfim! Muda. Não havia verbo, embora tantos ensaios sobre o que lhe diria. Faltaram as palavras, sumiram todas... eram supérfluas ali.

Que importavam as palavras? Que importava a brevidade do instante? Que importava dar um nome a esse contentamento? Que importância tinham aquelas luzes, aquela multidão, se ali, naquela praça, no anonimato da multiplicidade dos olhares, eu era a pessoa mais feliz do mundo?

Nada mais importava. Nada mais importa.

Foram dois segundos? Puxa... nem vi o tempo passar! Pensei que tinha estado horas respirando aquele seu cheiro, tocando os fios da sua barba, sentindo sua presença viva e real entre as minhas mãos... Minhas pernas nem respondiam mais!

Creio não imagina quanto esperei por aqueles dois segundos de vida.

Era um sonho e, de repente, ali estava eu, num misterioso ritual, guardando em mim um momento novo, como prova de que nada há que se possa chamar de impossível.

Eu toquei as asas de um anjo. Eu toquei as asas de um anjo!

Obrigada. Nunca o esquecerei. Peço ao Pai por suas realizações, como ele lhe fez instrumento da minha.

Todo sentimento.

Emmy Matias


Carta escrita logo após o show em Maceió, em agradecimento pela realização de um antigo sonho. Nunca vou esquecer aquele dia, porque esperei muito por ele!