A raça humana nunca teve tamanha
longevidade, sobretudo nos países mais desenvolvidos. Nunca vivemos tão
extensamente a vida, como nas últimas décadas. E a cada ano que passa, essa
expectativa de vida aumenta, a população envelhece, novos recursos da medicina
e demais ciências que se ocupam do nosso organismo são criados ou descobertos e
melhoram nossa qualidade de vida, aumentam dias aos nossos dias.
Por outro lado, tecnologias “aproximam
pessoas”, encurtam distâncias. Os meios de comunicação, cada dia mais ágeis e
aperfeiçoados, nos permitem ver, ouvir, ter comunicação direta com gente de
quase toda a extensão do planeta Terra. Sabemos do que se passou no outro lado
do mundo, em poucos segundos até. Estamos a par das conquistas humanas e dos
sofrimentos, aonde quer que eles ocorram, em habilíssimo prazo.
Dietas aumentam a expectativa de
vida, meios de comunicação encurtam distâncias.
No entanto, nunca estivemos tão adoecidos
mentalmente e tão afastados uns dos outros, como temos estado.
As pessoas martirizam-se comendo
coisas insípidas, porque viram na internet ou consultaram algum especialista e
souberam que fazem bem para a saúde.
Elas se esquecem que alguns alimentos servem muito bem para a saúde
física, mas não necessariamente para a mental. Digo isto no sentido do desprazer de
ingeri-los! A alimentação é mais do que fonte de nutrientes. Ela também é
estímulo prazeroso para nossos sentidos. Uma comida saborosa, aromática, “bonita”,
nos desperta prazer na alimentação. Comer o que não nos toca o paladar, o
olfato e a visão é uma tortura escolhida. E para quê?
As redes sociais nos permitem milhares
de amigos cada, no entanto a cada tempo que passa nos sentimos mais solitários,
nossas relações são cada dia mais destituídas de compromissos e de afetos. Palavreados
lindos e mensagens padronizadas no dia do aniversário – lembrado pela memória
infalível da internet e não pela importância real do outro para nós –
substituem aquele abraço que outrora atravessaríamos a cidade, se preciso fosse,
para dar no amigo.
De que adianta uma vida de cem
anos, porém desprazerosa, solitária, infeliz? De que adiantam tantos contatos
pela internet e nenhum calor humano entre as pessoas? De que adiantam tantos
esforços para parecermos saudáveis e felizes, mas nenhum esforço para realmente
o sermos?
Sempre me questiono sobre essas
cousas. Não me conformo com a ideia de viver me castrando ou de amar as pessoas
virtualmente. Não me conformo com o fato de tantas pessoas serem tão
conformadas!
Onde está a alma humana? Em que
ponto da nossa evolução esquecemos a importância dos afetos para uma vida feliz?
Em que curva do caminho abandonamos o ideal de felicidade? Em que página de
internet guardamos nossa capacidade de sentir?
Não sei mesmo se vale a pena
viver tanto para tão pouco!
Viver longamente ou viver
plenamente – o que vale mais?
Sinceramente, não consigo
compreender a superestima de certas pessoas para vidas tão ruins!
Agarram-se a martírios de todos
os tipos, abstinências de tudo que significa prazer, vão a templos religiosos
para cobrirem-se de culpas e remorsos, adoram um deus tirano e cruel, preferem
crer no desamor, desconfiar de tudo e de todos, viver superficialmente.
Preferem vida virtual, abraços via internet, beijos à distância pela webcam,
proteção contra vírus, bactérias e sentimentos de toda sorte... Para nunca
saberem o cheiro que o outro tem. Para
nunca saberem o gosto e o calor de um longo beijo...
Isso para mim passa longe do
verbo “viver”!
É um arremedo de vida! Não serve
para minha existência!
Prefiro amar o outro ao vivo, em
cores, tato, olores, sabores. Prefiro sentir prazer em acordar todos os dias. Não
morrerei se em algum momento houver decepções, dores. Mas morrerei um pouco a
cada dia, se não houver afeto, desejo e prazer em estar viva, se não houver bons
sentimentos no ato de viver.
Prefiro a morte durante um
orgasmo do que uma vida longa de desprazeres contínuos e escolhidos!
Eu não nasci para a infelicidade.
Não me permito viver se não houver algum sentido bom em estar viva.
E não compreendo, sinceramente
não compreendo mesmo, quem suicida aos poucos todos os dias, castrando-se das
possíveis felicidades cotidianas.
Mas... São escolhas, não é mesmo?
Quem sou eu para julgar escolhas alheias?
Só não me peçam para também
fazê-las! Eu prefiro a morte do corpo, rápida, certeira, definitiva, do que a
morte lenta e sofrida da alma. Entre o suicídio físico e o mental, eu ainda
escolho abrir a artéria pulsante e colher a dor.
Definitivamente, eu não nasci
para a infelicidade!
EmmyLibra
Apr 10, 2019 – 12:53 p.m.