Eu só queria
não desejar tanto...
EmmyLibra
Jun 14, 2013 - 8;55 a.m.
Friday, June 14, 2013
Tuesday, June 11, 2013
Uno
Quando – e somente quando – a humanidade não precisar mais da existência de psicólogos, então poderá afirmar que está em condições de COMEÇAR a ter consciência religiosa verdadeira.
Por enquanto, o que temos é uma dependência do sobrenatural para suportar nossas frustrações e para nos apoiar, como aleijados, usando a ilusão de que as forças que vêm das divindades nos possam suspender do chão, quando este nos parece muito cheio de cascalhos causticantes.
A experiência da comunhão verdadeira e efetiva com Deus, a partir de então, passará a ser vista não como um amuleto que nos proteja ou como um alimento que nos sacie – nos sirva –, mas como uma energia que flui, dinamicamente, dEle para nós e de nós para Ele, incessantemente, perenemente.
Religião ainda tem conotação muito próxima de suporte para pendurarmos nossas angústias e anseios. Também serve para exercitarmos a falsa humildade de não assumirmos nossos sucessos, pela ilusão de que, assumindo-os, nos tornaríamos menos dignos.
Dia chegará em que religião será apenas um conceito circunscrito ao passado das palavras e sentidos materiais humanos. Não haverá mais a necessidade dela, porque seremos em Deus e Ele em nós, como algo íntimo, indissociável, uno. Seremos, enfim, o que Ele talvez espere de nós, desde a nossa criação.
Por enquanto, o que temos é uma dependência do sobrenatural para suportar nossas frustrações e para nos apoiar, como aleijados, usando a ilusão de que as forças que vêm das divindades nos possam suspender do chão, quando este nos parece muito cheio de cascalhos causticantes.
A experiência da comunhão verdadeira e efetiva com Deus, a partir de então, passará a ser vista não como um amuleto que nos proteja ou como um alimento que nos sacie – nos sirva –, mas como uma energia que flui, dinamicamente, dEle para nós e de nós para Ele, incessantemente, perenemente.
Religião ainda tem conotação muito próxima de suporte para pendurarmos nossas angústias e anseios. Também serve para exercitarmos a falsa humildade de não assumirmos nossos sucessos, pela ilusão de que, assumindo-os, nos tornaríamos menos dignos.
Dia chegará em que religião será apenas um conceito circunscrito ao passado das palavras e sentidos materiais humanos. Não haverá mais a necessidade dela, porque seremos em Deus e Ele em nós, como algo íntimo, indissociável, uno. Seremos, enfim, o que Ele talvez espere de nós, desde a nossa criação.
EmmyLibra
Jun 11, 2013 - 12:03 p.m.
Monday, June 10, 2013
Sem estrelas
Um cego de nascença não sente saudades daquilo que nunca viu.
Até que um dia, por uma mágica qualquer, ele sonha com uma noite de verão, sem nuvens, sem lua, com o céu coalhado de estrelas. E ele pode ver, nesse sonho, toda a beleza e imensidão do universo, com pedras preciosas cintilando sobre o pano escuro da noite.
Ao acordar, na escuridão da sua cegueira [sem estrelas ao fundo], ele já não é mais o mesmo. E, deste momento em diante, sente saudades do que viu no sonho. Sente saudades do milagre de ver, de sentir.
Assim aconteceu comigo: eu era uma, antes de ver o pano escuro da noite salpicado de luzes coloridas, e me tornei outra, ao despertar do sonho. Sou outra. Incompleta, sôfrega, vazia, nostálgica. Perdida no vazio de uma cegueira em que eu nem sabia que vivia, e que era antes o meu abrigo seguro.
Sinto a escuridão tomar conta do meu olhar, tão distante do milagre de ver as luzes coloridas que antes eu ignorava...
– Para que o milagre de ver, então, numa contemplação tão breve daquele límpido céu de verão, com pedras preciosas derramadas sobre o pano escuro da noite?
Melhor seria continuar sem saber das estrelas...
Até que um dia, por uma mágica qualquer, ele sonha com uma noite de verão, sem nuvens, sem lua, com o céu coalhado de estrelas. E ele pode ver, nesse sonho, toda a beleza e imensidão do universo, com pedras preciosas cintilando sobre o pano escuro da noite.
Ao acordar, na escuridão da sua cegueira [sem estrelas ao fundo], ele já não é mais o mesmo. E, deste momento em diante, sente saudades do que viu no sonho. Sente saudades do milagre de ver, de sentir.
Assim aconteceu comigo: eu era uma, antes de ver o pano escuro da noite salpicado de luzes coloridas, e me tornei outra, ao despertar do sonho. Sou outra. Incompleta, sôfrega, vazia, nostálgica. Perdida no vazio de uma cegueira em que eu nem sabia que vivia, e que era antes o meu abrigo seguro.
Sinto a escuridão tomar conta do meu olhar, tão distante do milagre de ver as luzes coloridas que antes eu ignorava...
– Para que o milagre de ver, então, numa contemplação tão breve daquele límpido céu de verão, com pedras preciosas derramadas sobre o pano escuro da noite?
Melhor seria continuar sem saber das estrelas...
EmmyLibra
Jun 10, 2013 - 3:30 p.m.
Sunday, June 09, 2013
Rosa-outono
Dá-me o beijo da tua boca rósea
E me sentirei saciada por uma
vida inteira!
Mas sabe tu que minha vida findará
No
seguinte instante em que descolares
Teus lábios róseos dos meus.
Findará, e em seu lugar surgirá
uma nova vida:
Vazia, dolorosa, sofrida,
reticente,
De longas esperas e angústias,
Na qual buscarei novamente o
rosa-outono
E a umidade doce e morna
Da tua boca nua.
Mas morrerei de novo
E tantas vezes quantos forem teus
abandonos,
Tuas partidas,
Tuas recusas em pousares teus róseos lábios
Nos meus.
Tuas recusas em pousares teus róseos lábios
Nos meus.
Morrerei sempre que tuas ausências em mim
Dêem à minha existência
Os ares frios e os campos sem
flores
Desse infindável outono
De viver sem ti.
EmmyLibra
Jun 9, 2013 – 9:30 a.m.
Saturday, June 01, 2013
Resposta do Severino ao mestre carpina*
[...] Como então dizer quem falo / ora a Vossas Senhorias? / Vejamos: é o Severino / da Maria do Zacarias, / lá da serra da
Costela, / limites da Paraíba.
[...] Mas isso ainda diz pouco: / se ao menos mais cinco
havia.
[...] E se somos Severinos / iguais em tudo na vida, / morremos de morte igual, / mesma morte severina: / que é a morte de que se morre / de velhice antes dos trinta, / de emboscada antes dos vinte / de fome um pouco por dia.
[...]
— Seu José, mestre carpina, / que diferença faria / se em vez de continuar / tomasse a melhor saída: / a de saltar, numa noite, / fora da ponte e da vida?
(Trechos extraídos do livro “Morte e Vida Severina”, de João
Cabral de Melo Neto)**
QUANDO SEVERINO, RETIRANTE, RESPONDE AO
CARPINA
SOBRE SUA DECISÃO DE VIVER OU DE MORRER*
Seu José, mestre carpina, se me permite dizer
Comecei minha jornada querendo esclarecer
E relatar quem eu sou, tentando me descrever.
Mas eram tantos pormenores que me faziam quem
era
Que desisti de um nome pra me mostrar em
jornada
Pelos meus atos, meus sonhos, meus desenganos
de vida
Minhas paradas, uns medos e solidões
ressentidas.
Diante de mortes e vidas, severinas como a
minha
Eu segui pelo caminho, ora pensando aqui
dentro
Ora olhando para fora, ora me contradizendo
Convidando a quem quisesse saber de mim um
bocado
Do que nem mesmo eu sabia, e aprendi nesses
passos.
Como Vossa Senhoria me diz, com propriedade,
Ao longo do meu caminho a vida se mostrou
teimosa
Não tenho ainda certezas se vale a pena
viver.
Mas vivo o momento de agora, esse da nossa
prosa
E sei que essa mesma força que me sustenta
hoje
E me trouxe do sertão pro litoral, pra cidade
É a que move essa vida, não me deixa
enlouquecer.
É essa vida torta, essa vida severina
Dolorosa, tão difícil e esturricada de seca
Que me mostrou minha sina de ser também um
teimoso
De não querer dessa ponte e dessa existência
hoje
Pular para fora, me render, me sentir assim
medroso.
Prefiro a dor, cada dia, a fome e o estar só
Do que descobrir que não sou quem tentei
dizer que era
Do que perder de mim mesmo o nome e
capacidade
De entender de mim mesmo, de ter uma
identidade.
Mesmo sendo um caminhante, mesmo me
confundindo
Com tantos outros que passam por mim ao longo
da vida
Tantos outros severinos, em dores, em sina, e
em lida,
Essa ponte e essa vida não mais me verão
pular
Mais vale seguir sofrendo, mas sonhando e
existindo
Do que pensar numa morte, severina como
d’outros
Que, como eu, num momento de fome e de
desespero
Desistiram de viver, de continuar seu
caminho.
Mais vale ser um teimoso, agarrado ao fio da
vida
Do que ser mais um na cova, rasa, sob medida
Mais vale ser severino de sina, de dor e de
lida
Do que abrir mão dos meus sonhos, que é de
não precisar
Tantos nomes e lugares, coisas a explicar
Pra dizer quem eu sou – e a dúvida se afasta!
Sou apenas Severino: este que aqui me
apresento.
E Vossa Mercê que ouve, desde o começo,
atento
A mim me dirá que a vós, saber só isso já
basta.
EmmyLibra
May 28, 2013 - ± 3:00 p.m.
* Post criado a partir de atividade proposta pela professora Andréa Moreira (amo!!), na disciplina Psicologia Social (amo também!!), na qual deveríamos criar um novo final para o poema, a partir dos conceitos de Identidade vistos em sala de aula. Tomei, então, a liberdade de tentar escrever continuando o estilo. Nem de longe consegui dar sequência ao brilhante trabalho do João Cabral, claro! Mas fica o texto como recordação da aula e como homenagem ao escritor, que admiro profundamente.
O texto original fala muito de coisas que conheço bem: também migrei muitas vezes, embora em condições bem diferentes e mais fáceis, mas com a mesma velha conotação de abandonar referências para buscar-se em outras novas e desconhecidas... E hoje, se tenho um pouso, se tenho um lugar onde quero estar, foi por ter tido a oportunidade de experimentar diferentes espaços e conhecer pessoas que agora fazem parte da minha vida de modo positivo, para que meu hoje-aqui valha a pena. Andréa Moreira é uma delas. =)
** A quem interessar a leitura do texto original, do João Cabral de Melo Neto, está disponível na íntegra em http://www.culturabrasil.pro.br/zip/mortevidaseverina.pdf
Eu recomendo! ;)
Eu recomendo! ;)
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