Monday, December 17, 2012

Hipocrisia




"Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus. [...]
E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.
Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará."
Mateus 6:1,5-6


Antigamente, nas pequenas cidades – que eram quase a totalidade do que havia –, era comum as pessoas se reunirem nos finais de tarde, sentados à pracinha, para conversar, trocar experiências, ouvir conselhos dos mais velhos, cantar... Era hábito observar as crianças brincando no entorno da praça, ficar à toa, jogar cartas, mas, sobretudo, fazer amizades ali.
Hoje, os tempos são outros.  Não há mais tempo para a pracinha e,  mesmo as cidades que permanecem pequenas em relação às demais, cresceram muito!  Cresceram tanto, que não há mais distância entre uma e outra cidadela, entre um e outro arraial, entre um e outro país!  Estamos falando agora da internet, que amplia os horizontes das pessoas de tal modo, que esses horizontes muitas vezes se confundem.  E diminuem distâncias, fazendo com que o que está longe pareça perto.
Mas, em contrapartida, a internet criou outro tipo de distanciamento, que é aquele em que não conhecemos o outro, mas o que ele quer que pensemos que ele é.  Não sabemos quem está do outro lado, teclando conosco, porque a banda larga não é suficientemente larga pra transmitir as sensações, os cheiros, nem pra nos permitir certezas acerca da identidade do outro... Como a praça permitia.  
Então, trocamos a praça pelo Facebook, como ponto de encontro, com seu bate-papo, jogo on line... Nele trocamos abraços e beijos chamados virtuais,  tudo isso com abreviaturas, charminhos, emoticons.  E "fazemos amizades" ali.  
As distâncias de outrora eram percorridas a pé, a cavalo, a lombo de burro, carroça.  As de hoje são instantaneamente sanadas por um clique de mouse, uma webcam.
E nossos finais de tarde se prolongam pela noite adentro, varando madrugadas, se der vontade.  Insônias que outrora eram motivo pra um bom livro e um copo de leite morno com canela, agora viram pequenos recados na rede social.
Mas, voltando à praça... Muitos, no afã por aparência, usam o Facebook e outras redes como sua praça, fazendo tudo o que se fazia naqueles espaços públicos de outrora.  Inclusive o que não era recomendável nem ontem, nem hoje, nem nunca:  alardear suas preces, pra mostrar a todos que está orando, que está em comunhão com Deus (ou qualquer outra forma de adoração), ou dando esmolas ou entoando cânticos de louvor.
Isso poderia ser chamado de ridículo, apenas.  Bem poderia. 
Mas, não! Se é pra falar de Deus em praça pública, sejamos justos! Busquemos nas Suas palavras – que esses, a quem Jesus provavelmente chamaria de hipócritas, vivem pregando – um termo mais adequado pra chamar, ao invés de "ridículo".  Que tal... "reprovável"?
Ora, se vamos fazer da rede social uma praça, tomemos o cuidado de usar essa praça para o bate-papo, a troca de informações, o riso descontraído, a piada, a música.  A César o que é de César?  Ninguém deve ir à igreja para essas coisas, convenhamos.  Se vai, está errado do mesmo jeito.  Ou pior!
Então, a Deus o que é de Deus.  "Quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. [...] Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará."
Tem gente que esquece que há guerras acontecendo no mundo, criancinhas com câncer (adultos também!);  esquecem-se da AIDS, das misérias de toda sorte, da depressão, do suicídio, das pessoas que cuidam de seus entes queridos mutilados por acidentes de trânsito (pra não falar dos próprios acidentados!), das mortes prematuras de crianças vítimas de violências de toda sorte, dos medos e anseios que se aninham no seio da humanidade inteira!  Esquecem-se que todas essas coisas – e ainda outras tantas que não caberiam aqui nem seria necessário mencionar – pedem, urgem pelo olhar benevolente do Criador.  Essas necessidades REAIS, certamente são prioridades para o Pai.
Aí, talvez por falta do que fazer ou por pura autopromoção – que me perdoem a franqueza –, vão à praça (Facebook) para orar: "Senhor, abençoe isso e aquilo, proteja quem lê isso agora, minha casa, minha família, porquinhos da Índia... bla bla bla bla bla bla bla..."  
Gente do céu!  Quanta baboseira!
Esperam o quê?  Que Deus leia o Facebook?  Que ele curta seu post?  Que ele ATENDA suas preces? Ora, mas os hipócritas que oram em praça pública, onde todos podem assistir, "Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa"!  Na verdade, não queriam que Deus ouvisse, porque se o quisessem, e sendo sabedores das Escrituras – como dizem ser e até atacam os que não a conhecem – teriam "se fechado em seu quarto e orado em secreto, para que o Pai, que está em secreto, os recompensasse."
E aí, quando eu digo que prefiro não crer em nada produzido por mãos de homens, ou quando digo que sou simplesmente deísta, porque o mundo cristão é tudo, menos cristão, e não cabe no meu entendimento de Deus em sua essência, sou criticada veementemente!  Quase violentamente – pra ser mais exata!
É justo?!
Pois esses evangélicos que perambulam por aí, gritando suas preces em "praças públicas", criticando outras crenças e alardeando que estão salvos... Não sei, não!  Me fazem lembrar outro trecho muito eloquente do discurso de Jesus, quando ele dizia, por meio de uma parábola:

"Quando por alguém fores convidado às bodas, não te reclines no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu; e vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar o último lugar.
Mas, quando fores convidado, vai e reclina-te no último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante de todos os que estiverem contigo à mesa.  Porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado."
Lucas 14:8-11

E fica a pergunta:  quem abre a boca pra dizer que já está salvo... Será mesmo que está?
Das duas, uma:  ou não conhece o livro que chama de sagrado e que vive venerando, ou se faz de besta, pensando que Deus não lhe cobrará contas do que aprendeu ao longo dessa vida!
Mas isso é assunto pra um outro post, quem sabe numa outra ocasião, em que eu esteja um pouco menos ácida!
Por enquanto, prefiro reiterar que o Facebook ficou no lugar da praça, em que sentávamos nos finais de tarde para conversar, trocar experiências, ouvir conselhos dos mais velhos, cantar, observar as crianças brincando e fazer amizades.  
É bom que nos lembremos que lugar de orar é dentro do nosso quarto, com a porta fechada, e falando a Deus em secreto.  Não é gritando em praça, para que os outros assistam!  A menos que nosso interesse seja essa repulsiva autopromoção, o que nos tira o direito de esperar de Deus o que quer que estejamos pedindo, nem que ele aceite nossos agradecimentos, por mais lindamente escritos que estejam, nem qual moldura maravilhosa de flores e bichinhos tenhamos posto ao seu redor!
A essas coisas Jesus deu um nome:  hipocrisia.

EmmyLibra
Dec, 17, 2012 - 4:33p.m.

2 comments:

Marcelino said...

Muito bom este post,
parabéns!

Marcelino said...

muito bom seu post,
Parabens