Wednesday, January 10, 2007

Para Montenegro - II Carta de Emmy para Montenegro

Dois segundos

Dois segundos. Apenas dois segundos... Que importa? Foram dois preciosos segundos que durarão uma eternidade! Foram instantes de contentamento e realização. Era um sonho e, de repente, ali estava eu, num misterioso ritual de felicidade: um abraço.

Mas não foi um abraço qualquer, desses que a gente dá em uma pessoa qualquer, com um sentimento qualquer por ela, num dia qualquer da semana. Foi um abraço ímpar, cheio de uma emoção morna e especial; um abraço curtido durante anos e desejado como uma bênção! Foi tocar em algo que antes parecia utópico, sagrado, e que, por dois segundos sem fim, esteve entre meus braços – e era real! Foi um abraço desses que a gente cobiça a vida inteira e parece que a vida finda sem a gente abraçar, mas eis que, num revés do destino, eu me vi ali, enlaçada a um bem-querer, a um desejo encantado, a um ser que carregava em si uma aura de magia... E foi num dia que eternizarei em mim: o dia em que a utopia se fez tangível!

Ah!, a felicidade! Quão cheirosa é a felicidade! Tem um aroma que minhas mais doces ilusões por anos tentaram supor, mas que, por mais embriagantes fossem essas idéias, elas estavam ainda muito distantes da sensação agradável que aspirei e que minha memória jamais confundirá!

Dois segundos. Apenas dois segundos... Que importa? Era a felicidade. É a felicidade! E toda uma existência se justificava ali, pela felicidade. Por dois segundos que fossem, desde que da mais pura felicidade. Daquele não-sei-quê encantado que um dia desejei, e para o qual me preparei tanto, que o que pareceria aos olhos de muitos – e mesmo aos seus – como uma insignificante e insuficiente gota d’água – apenas dois segundos de abraço e o aspirar daquele cheiro – foi o bastante para ser eterno e saciar a imensa sede que senti por tanto tempo.

Dois segundos. Apenas dois segundos... Que importa? Sou feliz. E a minha felicidade nasceu no meio de uma praça cheia de gente, luzes, um palco, repórteres... Mas nasceu anônima. Como o amor que sempre senti era anônimo, como continuarei sendo eu mesma uma pessoa a mais em meio à multidão que lhe ouvia pouco depois daquele encontro – e isso me basta, pode crer! Nasceu a minha felicidade, depois de tantos anos de gestação, tanta expectativa. Nasceu, depois de tantas vezes em que a considerei abortada, em que esqueci mesmo que nome lhe daria... Num parto sem dores, urgente, nasceu, enfim! Muda. Não havia verbo, embora tantos ensaios sobre o que lhe diria. Faltaram as palavras, sumiram todas... eram supérfluas ali.

Que importavam as palavras? Que importava a brevidade do instante? Que importava dar um nome a esse contentamento? Que importância tinham aquelas luzes, aquela multidão, se ali, naquela praça, no anonimato da multiplicidade dos olhares, eu era a pessoa mais feliz do mundo?

Nada mais importava. Nada mais importa.

Foram dois segundos? Puxa... nem vi o tempo passar! Pensei que tinha estado horas respirando aquele seu cheiro, tocando os fios da sua barba, sentindo sua presença viva e real entre as minhas mãos... Minhas pernas nem respondiam mais!

Creio não imagina quanto esperei por aqueles dois segundos de vida.

Era um sonho e, de repente, ali estava eu, num misterioso ritual, guardando em mim um momento novo, como prova de que nada há que se possa chamar de impossível.

Eu toquei as asas de um anjo. Eu toquei as asas de um anjo!

Obrigada. Nunca o esquecerei. Peço ao Pai por suas realizações, como ele lhe fez instrumento da minha.

Todo sentimento.

Emmy Matias


Carta escrita logo após o show em Maceió, em agradecimento pela realização de um antigo sonho. Nunca vou esquecer aquele dia, porque esperei muito por ele!

1 comment:

Anonymous said...

Mesmo comentário da anterior.

Abraços!