Thursday, May 10, 2007

Destino

 

DESTINO (I)


A vida costuma empurrar a gente daqui para ali e dali para adiante... E a gente vai se permitindo ser levada, conduzida. Quando vê, o tempo passou, a velhice já nos enlaçou em seus longos e fortes braços, já sugou nossas energias, já nos deixou tão miseravelmente condicionados, que se nos fosse permitido um instante de soberania sobre nosso destino, já não mais saberíamos o que fazer, como aproveitá-lo.
Tenho medo dessa submissão, tenho vontade de quebrar regras, reinventar, recomeçar e tomar sob meu jugo as minhas realizações, mesmo que pareçam pequenas e insignificantes. Gosto de ter autonomia sobre minha vida, gosto de sonhar e de avançar sobre os inimigos desses sonhos como um guerrilheiro avança sobre as trincheiras opostas, devastando-as.
Temo, muitas vezes, por minha sanidade, mas temo muito mais findar a minha vida como co-autora dela... Não quero contar aos meus netos que estava sempre onde o vento soprava, onde o destino me arrastava. Quero ser artífice de minha felicidade e de minhas dores.
O que pode ser pior a um ser humano do que a submissão, o não ser dono de si, o não poder escolher? Nada pode doer mais do que deixar escapar por entre os dedos as rédeas do destino, o poder de decisão.
Eu afirmei uma vez e volto a dizer, que não há nada, em absoluto, que seja valioso o bastante para comprar a minha liberdade. NADA. Nada a substitui, nada me alimentará o espírito o suficiente para que eu não careça, não sinta fome de ser livre. Não há, neste mundo, coisa alguma que valha meu direito de decidir sobre minha vida, meu destino.
E me pergunto: o que estou fazendo de minha vida? Onde estão os sonhos que outrora eram motrizes de minh’alma? Cadê a doce sensação de estar viva? Por onde andei, que esqueci a felicidade à beira do caminho?
Quero “ter de volta todo o ouro que entreguei a quem conseguiu me convencer de que era prova de amizade se alguém levasse embora até o que eu não tinha” (L. Urbana).
Quero de volta a minha vida.


EmmyLibra, Jun 6, 2006 - 9:20am.

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DESTINO (II)

Chega a ser curiosa a minha situação hoje: eu quero ir embora, estou me preparando para a partida, aí aparecem pessoas que “gostam” tanto de mim , que insistem para que eu não vá. Engraçado, pois são essas mesmas pessoas que se fazem invisíveis, quando olho à minha volta em busca de afeição, de carinho. São essas mesmas pessoas que, nas suas rotinas, não encontram tempo pra mim – nem eu para elas.
É tão contraditório esse tipo de amizade que se vive aqui, que eu custo a entender. Há momentos em que tento me aproximar dos meus “amigos”, eles se fazem arredios, cheios de reticências, de não-me-toques e formalidades... Aqui as pessoas não se abraçam nem se beijam, não trocam cartas nem palavras doces (isso é só dos amantes!). É uma tal amizade de “oi, tudo bem?, tchau!”, que não me entra n’alma!
Eu sou de um tempo-espaço diferente: vivi grande parte da minha vida (tempo) em Pernambuco (espaço), e lá as pessoas amigas me visitavam – e eu a elas. Saíamos para tomar sorvete, bater papo, ouvir música num barzinho, contar piadas, fazer pic-nic... Ninguém precisava ser namorado para fazer essas coisas, nem mesmo tinha necessariamente que ser solteiro. E se não éramos namorados, nem solteiros, isso nunca foi empecilho para que nos tocássemos com gentileza, dando um caloroso abraço ou beijando-nos com alegria e entusiasmo. Ninguém mal-via aqueles gestos, ninguém questionava nem criticava, porque lá é hábito que os amigos de verdade sejam carinhosos uns com os outros, sem que por isso as pessoas maldem qualquer intimidade maior.
Acho que, no fundo, é o que eu mais lamento por viver aqui: a falta desses relacionamentos que “desestressam” – como dizem nessa terra de costumes e linguagem tão diferentes. Essas pessoas com quem a gente pode rir e chorar com a mesma naturalidade. E, é bom lembrar, às vezes ter com quem rir é ainda mais difícil!
Ah... Tivesse eu os meus bons e velhos amigos de outrora, me cercando de carinho e aceitando também meus manifestos de ternura, não padeceria tanto essa solidão dorida e recalcada que ora me sufoca!
Existe mesmo algum tipo de mágica que se faça para resolver essa carência, além de tentar encontrar terras mais hospitaleiras do que esta? Creio que não... A menos que eu pudesse trazer aquele tempo-espaço de outrora para morar dentro de mim, em minha casa, em minha rua, em minha vida...
Mas aí talvez eu estivesse retirando do seu justo lugar na história da minha existência, o que me construiu. E perdesse de vez todas as minhas referências...


EmmyLibra - Jun 22, 2006 - 12:57pm



“Mas, como eu posso ser feliz num poleiro? Como eu posso ser feliz sem pular?
Como posso ser feliz num viveiro, se ninguém pode ser feliz sem voar?
[...] E já sem a corda no pescoço, sem as grades na janela e sem o peso das algemas na mão, eu encontrei a chave dessa cela, devorei o meu problema e engoli a solução.
Ah, se todo o mundo pudesse saber como é fácil viver fora dessa prisão e descobrisse que a tristeza tem fim e a felicidade pode ser simples como um aperto de mão!
Entendeu?

É esse o vírus que eu sugiro que você contraia.
Na procura pela cura da loucura, quem tiver cabeça dura vai morrer na praia."

(Gabriel, o Pensador)

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