Thursday, June 03, 2010

Novo ângulo

Deus me criou vazia dessa ingenuidade doentia, que é capaz de estacionar uma pessoa por séculos dentro de uma poça d’água de chuva.  Fez-me, no entanto, plena de certezas.  Certezas que me preencherão pela vida inteira e ainda um tanto mais de tempo, enquanto eu existir na escuridão da morte.

Sinto sofreguidão ao pensar no que ainda não experimentei.  Vontades, anseios...

Falta-me a falta de ar dos muitos êxtases que ainda não incendiaram meus poros.

Deus fez-me assim, alma meio indecifrável. Fez-me louca, extrema. Deu-me sabedorias que me fortalecem e também incertezas muitas, para que não me faltem impulsos, não me faltem os sonhos.

Quem sou eu?

Às vezes sou mulher; faço-me homem, quando me convém; visto-me bicho, ora selvagem, ora dócil, ora noturno, soturno, oculto.  Talvez eu seja muitas faces; talvez apenas uma, que se traveste e se pinta para iludir.  Talvez não seja mesmo nada mais que uma ilusão – até para mim mesma!

Se iludo ou me iludo, pouco importa.  Aprendi um amor sublime:  aquele em que amo minhas imperfeições tanto quanto minhas poucas virtudes.

Amo-me quando choro, amo-me quando rio, amo-me quando peco.

Minhas muitas faces, mesmo as mais feias, me parecem muito lindas, agora, vistas por este novo ângulo.  Mesmo quando peco.

- O pecado também é uma ilusão humana!

EmmyLibra
March 3rd, 2010 – 7:57a.m.

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