O que uma pessoa não faz, estando apaixonada?
Ela se vê capaz de subir em muros íngremes – os que cria por dentro, e que a bloqueiam e cerceiam seus impulsos. Ela os transpõe, como se nunca tivessem existido.
Cuida do outro, cuida de si. Cuida da paixão, para que o brilho esteja sempre nos olhos. Até parece que lustra os olhos todas as manhãs, para que reflitam o sol, anunciando que o amor está lá dentro deles!
Apaixonada, uma pessoa se entrega, fica vulnerável, muda o jeito de andar, de pentear os cabelos, o jeito de sorrir – e sorri mais, daí por diante, porque o amor pede felicidade para não se tornar um fardo.
Quando está plena da paixão, a pessoa enxerga tudo em cores nunca antes percebidas. E vê no outro o que espera, não necessariamente o que é real. Pressupõe-se capaz de enlevar o ser amado, vê-se responsável por seus gestos, sente-se alvo de seus olhares, de seus desejos. Tudo de bom que vem do outro é seu, e tudo de seu passa a ser bom, porque é sempre dádiva ao outro.
Cada movimento seu tem uma sensualidade nova, cada palavra sua tem uma sonoridade apropriada, um cuidado para dizer o assunto besuntado nos óleos dos sentimentos. Para que o outro, ao ver e ouvir, tenha a sensação de que há uma trilha sonora no fundo de cada sentença.
Ao permitir-se o enlevo, o apaixonado canaliza as sensações. Perde um pouco os sentidos, fica meio fora de si. Molha-se de chuva e acha aquilo maravilhoso! Nem sente frio... Só um calor que vem do seu ventre, espalhando-se até os pontos mais extremos da sua aura, transbordando e inundando tudo à sua volta. Porque o amor pede o conforto e, se não há, ele cria com sua energia.
O apaixonado sofre, espera, anseia, acaba com as unhas, cabelos, palavras... Faltam-lhe suprimentos, enquanto não se vê na companhia do ser amado. Faltam-lhe argumentos para conter sua alma dentro do peito – quer voar!
No estado de graça a que o amor é capaz de elevar, a pessoa ri à toa, cria paisagens, idealiza riquezas que, em sua maioria, jamais sairão de sua mente para virar projetos. Afinal, amando não temos tempo para mais nada, além do alvo de nossas paixões. É nossa meta única.
A semana passa a ter um único dia: o de encontrar o bem-querer. E se o encontra todos os dias, cada dia é ímpar e tem a duração da semana inteira em suas 24 horas. Se não há encontro, no entanto, as horas se arrastam e arrastam consigo suas esperanças. Parece que morreu, que o tempo parou, que não há mais nada a fazer, senão consumir-se a si mesmo. Porque não vale a pena a vida longe do ser amado!
Quando amamos, o amor vira chantilly, e adoça tudo o que há – mesmo a fome e as dores.
Nada pode ser mais incômodo do que as horas em que a alma gêmea se ausenta. Perde-se a vontade de comer, perde-se o sono, perde-se o rumo. E, até que est’alma volte a estar perto, tateamos num breu infinito. Falta-nos a luz, falta-nos o ar, falta-nos bússola. Naufragamos num mar de lágrimas.
O que não faríamos em nome do amor, então?
Por amor pecamos, por amor pedimos perdão, por amor somos condenados e depois absolvidos.
Jogamos fora horas preciosas, rabiscando iniciais num papel de pão, sempre cercadas por um coraçãozinho ridículo, flechado por todos os cupidos que a mitologia já desenhou.
Por amor, tocamos as estrelas, colhemo-nas como flores.
Podamos as ervas daninhas do nosso jardim interior, plantamos árvores que já nascem frondosas, com longos galhos e frutos maduros.
Por amor nos tornamos gentis, ampliamos nosso vocabulário para impressionar.
Nosso anjo sorriu? Foi por nossa causa, só pode ter sido!
Enchemo-nos de questões novas, filosofamos, reavaliamos a vida, despimos preconceitos, abrimos campo para aceitações e transformações. Tudo o que é novo é bem vindo!
Canalizamos energias curativas ao ser amado, queremos ver-lhe bem. Queremos abrir seu coração e arrancar de dentro dele os espinhos que a vida lhe traspassou. Queremos ser capazes de ressuscitar sua vontade de vida, se ela faltar. Queremos lhe alimentar e nutrir, providenciar o que lhe falta. Ser o que lhe falta.
Por amor, afinal, nos tornamos melhores. Por amor merecemos e justificamos nossa própria existência.
Por amor, vamos além das palavras, das pausas, da linguagem.
Por amor nos calamos. E o silêncio passa a falar sutilmente, em sua linguagem muda, o que nossa alma quer gritar.
Tudo isso por amor. Tudo o mais por amor. Tudo.
[Aposto amoroso: Para o amor, o léxico criou a reticência. Porque não havia mais palavras nele que o traduzissem e expressassem com fidelidade e clareza suficientes. E aquele necessário silêncio, então, ficou implícito na infinidade reticente de um sinal gráfico.]
O amor não tem ponto final...
EmmyLibra
Nov 26,2010 – 08:29 a.m.
2 comments:
Concordo plenamente!!! O "amor" não tem ponto final...Muito bom o texto!!!Gostei bastante de ler...Um bjo!
Realmente quando agente está apaixonada,sentimos isso mesmo.
É uma borbulhão de emoção!
Gostei muito do que vc disse.
Beijos!!!! Te adoro Elaine.
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