Thursday, May 03, 2012

Transeunte

Ontem eu te amava.
Eras o objeto de veneração dos meus olhos,
O centro das minhas angústias, ao fazer-se ausente,
O centro das minhas convulsões e êxtases, quando em mim.

Hoje és anônima transeunte – talvez nada além disso.

Estarei eu vazia de ti?
Estarei eu livre da obsessão que me guiava
Sempre ao encontro dos teus passos?
Não.  Certamente que não.
Essa é uma pausa que a vida me pede
Para alimentar-se
E para que eu não te mate com meu abraço esmagador.

– É um proteger o ser amado de mim mesma
Que o meu coração providencia, vez em quando.

Mas, em verdade, é um pensamento egoísta a mais:
Se morreres em meu abraço, o que restará?
Morrerei eu também, no vazio que ficará dentro dele
Se te fores embora de mim para sempre,
Também minh'alma se irá de mim
E a vida se irá
E o desejo de viver também se ausentará
E todas as dores amorosas que justificam a vida,
E todos os suspiros que, enfim, me obrigam a respirar,
Mesmo quando daqueles momentos de tormenta 
Em que te afastas
E a vida perde todo o sentido...

Não te vai para sempre de mim, anjo de vida,
Para que do meu espírito atormentado
Não se aproxime o anjo da morte!

Não te vai de mim,
Mesmo que hoje – e apenas hoje, esteja certa!
Sejas apenas anônima transeunte a passar por mim...


EmmyLibra
May 3, 2012 - 7:26 a.m.

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