Wednesday, August 01, 2018

Algoz

Numa hora falavas comigo
E tua fala me chegava
Tão doce… Um bálsamo,
Suavizando as dores!

No instante seguinte
Ela me parece torpe, cruel!
Já não é mais a mesma.

Depois que me mataste um pouco
Depois que vi em ti pensamentos loucos
Estranhos, comestíveis, desenfreados
Despejados sobre esse meu corpo,
Estremeci.

E, ao ouvir-te de novo
“Meu bem” - dizias, quase como antes!
Mas nunca como antes.
- Nunca será como antes!
Esfriei sob a pele,
Doeu por dentro.

Porque antes desejei viver
Para ti também, por ti também.
Um pouco.

Mas, sepultaste minh’alma
À sombra das árvores frondosas
Das tuas falas fortes,
Imperatrizes, inconsequentes.

Acaso não percebeste
Quando respirei o teu ar?
Quando segui teus caminhos?
Quando te contemplei?

Acaso não viste nas horas nuas,
Quando me deste um pouco de vida,
Que eu já estava prestes a sucumbir?
Que era um pouco por ti que viveria
Dali por diante?

Jogaste fora esta vida
Decepaste os seus ramos
Destruíste a sua raiz.
Teus sons tornaram-se lâminas!

Hoje, murcham os sonhos
Os planos, as coisas todas
Que plantaste com tuas palavras
Quando elas ainda tinham doçura.

Já não te reconheço.
Talvez agora, simplesmente,
Te conheça - enfim!

Mas preferia aquel’outro
Que me ergueu das cinzas,
Mesmo que agora
Ele já  me pareça tão falso.
Utópico. Irreal.

Esse a quem ora me apresento
É o algoz que me fere,
Que transpassa meu coração
Com a espada gélida e tóxica
Da desesperança.

EmmyLibra
Aug 1st, 2018 - 2:48 p.m.

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