Friday, August 28, 2020

Remissão

Na ilicitude dessas horas tuas
Em que me embriago desse amor volátil,
Esvão-se de mim os pensamentos puros,
A santa castidade de que se fazem os anjos.

Sou nada mais do que esses instantes mornos
Que - dizem muitos - me condenarão 
Aos calores infinitos 
Das chamas ardentes na escuridão profunda,
Onde Deus, muito provavelmente, não está!

Ora, pois! Não é o Ser Altíssimo onipresente, 
Para que de divindade Lhe possamos chamar?

Estaria Ele, também, presente no vão escuro
E fétido e imoral do inferno?
Ou mesmo no leito morno, sobre o qual,
Ainda agora mesmo, me embriago e deliro?

Acaso me contemplará este Ser com seu olhar 
- Supostamente bondoso,
Enquanto me despedace eu em meio ao fogo,
Naqueles dias infindáveis da minha condenação?

Desconsiderará o Criador que o leito e a embriaguez
Estavam cobertos 
Pelo tênue véu de sentimentos amorosos por ti?

Acaso, o que guardo no peito
E que me arrebata aos braços teus a cada estação,
Não serve para cobrir os pecados tantos
Que pesam como fetos mortos
Dentro do meu ventre?

Essas horas ilícitas,
Nas quais me embriago e deliro,
Dizem mais dos Céus do que do Inferno,
Dizem mais de Deus do que de mim,
Dizem mais a Deus do que dizem a mim.

Essas horas ilícitas, banhadas de suores e salivas,
Falam mais de alma do que de corpo,
Falam mais de amor do que de pecado,
Falam mais ao amor do que ao pecado.

Essas horas ilícitas, cercadas de temores
Da materialidade da incompreensão humana,
Não temem o suficiente para que lhe ponhamos termo,
Pois não temem a imaterial Realeza que nos julgará, enfim,
Pelo filtro do amor no qual se banham
E que remirá, um dia,
Pelo batismo inquestionável desse amor,
Todos os pecados humanos,
Lavando todas as honras
E devolvendo-lhes a imácula transparência,
Na qual refletir-se-á
A luminescência das almas - então inocentadas
De toda e qualquer paixão sorrateira
Que, porventura, 
Haja permeado os lençóis,
Enquanto a embriaguez e o delírio
Nos elevava ao êxtase.

EmmyLibra
Aug 5, 2020 - 10:55 a.m.






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