Sunday, September 05, 2010

Inconfessáveis

Tenho desejos inconfessáveis.  Desejos que nascem em meu ventre, como filhos dessa minha insensatez.  São desejos de pecados, sonhos de morte, vôos no abismo escuro do desconhecido, amores que cultivo na garganta, para que não maculem meu coração.
Quero sair, caminhar, respirar. Mas é pecado, é desejo de morte, é sonhar com abismos, quando ainda não tenho asas!
Preciso ir ao encontro do mar e me afogar em suas águas.  Mas minha alma pode não encontrar canoa e pensar que também morreu, então morrer de verdade.
Sinto fome. Quero saciar meu coração, mas há veneno no alimento que eu cobiço.
Olho ao meu redor e tudo o que meus olhos distinguem se parece com o infinito.  Não há, ao alcance da minha visão, coisa alguma que tenha a silhueta dos meus anseios.  Nada tem a cor ou o som, o cheiro ou o gosto do que os meus sentidos esperam captar.
E meus lábios tremem, sedentos de uma seiva rara, que é a cura para os males do corpo, enquanto capaz de sufocar a alma dos que lhe bebem.
A distância que me separa do objeto de minhas paixões é como um caminho de pedrinhas soltas, sobre o qual meus pés descalços sangram, deixando pedaços da minha vida espalhados pelo chão.
Não alcanço – por mais que estenda os braços e as mãos e os dedos – o céu que desenhei pra mim.
Vivo momentos de espera, construindo, dia após dia, paciência que baste para suportar a verdade:  estou amarrada pelos tornozelos a conceitos e leis que jamais criaria, por serem caminhos sem volta  para a infelicidade, como é sem volta o caminho que percorre o tempo sobre nós.
Faz-se apressado o meu coração.  Tem urgência de vida, como tem urgência a mulher que está em trabalho de parto.
E o tempo, único tormento de min h’alma, não para de escoar por entre meus dedos...

EmmyLibra

Jun 27, 2004 – 5:17pm


No comments: