Wednesday, September 29, 2010

Lifetime

Gostaria de saber quando vou morrer.  Assim poderia decidir com mais convicção se devo gastar mais ou menos tempo escovando os dentes.

EmmyLibra
Sep 29, 2010

Monday, September 06, 2010

Ponto de Equilíbrio

Para tudo na vida há uma necessidade, uma aplicação prática e positiva.  Até os venenos mais tóxicos têm seu uso farmacêutico, fazendo parte de medicamentos importantes e salvando vidas.
Assim também os sentimentos – mesmo os que nos parecem torpes à primeira análise – devem ser provados e vivenciados por nós, em doses que variam, de acordo com seus efeitos. 
Da mesma forma, aqueles que nos parecem muito positivos, como o amor, devem vir em doses homeopáticas, para que não se percam seus benefícios.
Excesso de ódio nos faz perigosos; sua falta nos faz patéticos e indiferentes à distância entre o bem e o mal.
Excesso de tolerância causa no outro a sensação de que tudo pode, e faz progredir o mal nele;  sua falta faz guerras e antipatias.
Excesso de zelo gera obsessivos; sua falta gera incompetência e desleixo.
Excesso de prudência nos leva a estagnar; sua falta nos conduz aos abismos.
Excesso de amor por si mesmo gera egoísmo;  a sua falta gera suicidas.
Excesso de amor ao outros lhes subtrai a necessidade de sofrer para compreender a essência da vida;  a falta desse sentimento gera todos os outros vícios morais de que se tem conhecimento.
Absolutamente tudo nesta vida pode e deve ser provado, guardadas as proporções seguras e os momentos propícios.
Assim como os vinhos, também os sentimentos devem ser usados com moderação.
Nada é pecado, de fato...  Só o uso desmedido ou indevido das coisas.

EmmyLibra
Mar 28, 2008

Propriedade


As coisas não nos pertencem
As pessoas não nos pertencem
Nada que a morte pode nos fazer abandonar
É nosso de fato

A nós, a propriedade
Das incertezas da vida, apenas,
Com seus obscuros momentos seguintes.


EmmyLibra
Mar 28, 2008

Sunday, September 05, 2010

Alternando-se

Corre pouco sangue em minhas veias, agora. 
Sinto que a vida não percorre todo o meu corpo em todos os momentos.  Está em meu coração quando amo e em minha garganta quando choro e sinto doer; repousa em meus olhos durante o sono, converte-se em sonhos nas noites frias e em pesadelos nas madrugadas quentes; desce pelos meus cabelos sempre que a brisa os toca e estampa-se em minha face quando chove e ergo a cabeça, braços abertos e mãos espalmadas a receber as bênçãos que caem com os pingos d’água.
Agora, a vida concentra-se em minhas mãos, donde sai, vez ou outra, para visitar meu ventre em busca de sua essência original.  Mas nunca me preenche, nunca me toma por inteiro.  Raciona-se, escolhe uma moradia a cada novo movimento que faço, a cada novo pensamento que produzo, alternando-se, migrando, deixando-se ficar apenas o preciso instante em que cada parte de mim carece dela imprescindivelmente.
Já me acostumei com isso.  Respiro pela metade, vivo em partes, construindo a imagem do todo com os fragmentos de lembranças deixadas pela sensação boa do calor que dessas pequenas porções é exalado.
Não imploro, não reclamo, não me entristece o fato de não ter a totalidade da vida em meu ser, como é forçoso pensar, pelo absurdo desenho que se forma em minha mente, quando a busco e imagino-me mapa estendido sobre uma mesa.
Eu apenas deixo-me ficar imóvel por alguns instantes, para poder sentir quando ela vai acontecer em meu peito, porque gosto de ouvir os sutis diálogos que acontecem entre o amor que a vida transporta em si e todos os amores que carrego em meu coração.




EmmyLibra
Jun 27, 2004 – 3:40pm

Inconfessáveis

Tenho desejos inconfessáveis.  Desejos que nascem em meu ventre, como filhos dessa minha insensatez.  São desejos de pecados, sonhos de morte, vôos no abismo escuro do desconhecido, amores que cultivo na garganta, para que não maculem meu coração.
Quero sair, caminhar, respirar. Mas é pecado, é desejo de morte, é sonhar com abismos, quando ainda não tenho asas!
Preciso ir ao encontro do mar e me afogar em suas águas.  Mas minha alma pode não encontrar canoa e pensar que também morreu, então morrer de verdade.
Sinto fome. Quero saciar meu coração, mas há veneno no alimento que eu cobiço.
Olho ao meu redor e tudo o que meus olhos distinguem se parece com o infinito.  Não há, ao alcance da minha visão, coisa alguma que tenha a silhueta dos meus anseios.  Nada tem a cor ou o som, o cheiro ou o gosto do que os meus sentidos esperam captar.
E meus lábios tremem, sedentos de uma seiva rara, que é a cura para os males do corpo, enquanto capaz de sufocar a alma dos que lhe bebem.
A distância que me separa do objeto de minhas paixões é como um caminho de pedrinhas soltas, sobre o qual meus pés descalços sangram, deixando pedaços da minha vida espalhados pelo chão.
Não alcanço – por mais que estenda os braços e as mãos e os dedos – o céu que desenhei pra mim.
Vivo momentos de espera, construindo, dia após dia, paciência que baste para suportar a verdade:  estou amarrada pelos tornozelos a conceitos e leis que jamais criaria, por serem caminhos sem volta  para a infelicidade, como é sem volta o caminho que percorre o tempo sobre nós.
Faz-se apressado o meu coração.  Tem urgência de vida, como tem urgência a mulher que está em trabalho de parto.
E o tempo, único tormento de min h’alma, não para de escoar por entre meus dedos...

EmmyLibra

Jun 27, 2004 – 5:17pm