Monday, February 04, 2019

Um verso

Eu queria um verso, uma canção,
Qualquer coisa que dissesse de mim
Para falar aqui.

Mas não há.

Quando a cabeça não pensa
E a boca age conforme seu desejo
Quando vive o lábio uma palavra
Ou um beijo
Quando por ele foge a sensatez
E entram prazeres irrestritos,
Erros irremissíveis,
Sofre o corpo, a alma, a vida
A vida inteira sofre!

A vida passa a caber num instante
De arrependimentos e medos
Da pesada carga de dor
Que abraçamos, quase nunca sem saber.

Não há inocência.

Não há inocências!
Nem mesmo acasos há
Ou qualquer coisa
Que acalente o sono
E abrande o pranto
Nas noites e dias
E nas vidas que seguem.

Nada calará aquela voz incômoda
Dentro da cabeça,
Para que o sono venha
E para que os sonhos
Povoem de estrelas uma vez mais
O céu interior, agora rubro
De sangue e tintas escarlates.

Nenhum fogo lamberá remorsos
A não ser aquele que a eternidade
Inexoravelmente trará.

Nada extinguirá a dor!

Eu só queria um verso
Triste que fosse, tanto faz!

Apenas um verso
Que dissesse de mim,
Da minha cela de paredes pichadas
De impropérios tantos,
De mensagens vindas do inferno
E de silêncios acusatórios.

Eu só queria um verso.
Um verso apenas,
Mas que pudesse traduzir minha alma
E convertê-la em som,
Ainda que fosse o som grave,
Doloroso e fúnebre
De um réquiem sagrado.

EmmyLibra
Jan 17, 2019 - 8:41 a.m.

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