Saturday, April 25, 2020

Guerras


Quando, um dia, a guerra explodir
Em milhares de mortos lutando por vida
E vivos que, por dentro, carregam morte,
Então perceberemos que viver ou morrer
Não estão num corpo que jaz ou anda,
Mas na liberdade que se conquista ou perde,
Na dor que se evita ou sofre,
No socorro que se presta ou nega,
Nos órfãos que colherão a solidão
Plantada pelas armas dos insensatos.

Quando, por fim, a guerra acabar,
E a morte recolher o seu quinhão,
Mortos enterrarão outros mortos,
Como dizia sábio mestre do Oriente
E restarão vivos inexatos.

Quando, no fim, a guerra for passado,
Suas feridas perdurarão o bastante
Para nos fazer relembrar os seus dias de dor,
De desamor, de despudor, de amargor.
E ainda ouviremos as almas dos Homens
A gemer na imensidão do planeta
Por séculos e séculos,
Numa dimensão oculta aos nossos olhos.

Quando, depois do fim, as feridas secarem,
As cicatrizes da guerra que um dia explodiu
Far-se-ão discretas, sob o manto da indiferença,
Emudecerão as almas dos Homens
Daquela dimensão paralela e sombria.
E o esquecimento da dor e da solidão
Trará aos corações dos órfãos, já crescidos,
O desejo de promover, a seu turno,
Outras lutas e disputas insanas, outras guerras.

E quando, um dia, a guerra novamente explodir
Será um escárnio à lembrança dos Homens
Cujas almas gemeram por séculos
Na imensidão do planeta,
Depois que a morte as ceifou pelas feridas abertas
Nos seus corpos banhados de sangue e medo.

Guerras são, invariavelmente, escárnios à vida!

EmmyLibra
Apr 25, 2020 - 10:57 a.m.

1 comment:

Angelo Magri J said...

Gostei muito. Estou postando no facebook. Beijo.