Tuesday, September 11, 2012

Lacuna

Eu brigo comigo mesma
Digo que você não está mais aqui,
Que você não há,
Que nem há outras flores...

Mas aí você aparece no meio da noite
E aconchega-se no meu sonho,
Me deslumbrando, me desnorteando.
E acordo em suores,
Mergulhada num insuportável vazio.

Quero a paz do antes de haver você
Ou o turbilhão de haver-me em sua carne.
Mas não quero as reticentes esperas
Que não findam quando finda o dia,
Quando finda a semana, o mês,
O ano...

O pior da sua ausência
–  O que me faz querer desistir de tudo,
Até do próprio amor,
É o inconsistente futuro
Que se desenha para mim,
Para nós.

O que me tortura
Não é a sua ausência em si mesma
Ou a saudade, nem o vazio como vazio:
É a desesperança de que algum dia
Desapareça essa lacuna que há agora,
Onde, decididamente,
Só poderia haver seu corpo.

EmmyLibra
Sep 6, 2012 - 2:14 p.m.


Saturday, September 01, 2012

Drogas

Escolho sentir genuinamente o que sou capaz de sentir, 
pouco ou muito. 
Drogas, a meu ver, tomariam meu lugar na cena, 
viveriam no meu lugar o que eu gostaria de viver. 
Não preciso delas.  Sou mais eu!

EmmyLibra
Sep 2nd, 2012 - 1:15 p.m.

Friday, August 24, 2012

Escravidão


Prefiro o tempo das correntes, chicotes e troncos.
A escravidão era mais honesta!  Nos dava o direito 
de saber nossa real condição de submissão, 
que era imposta pela força física e pela violência;
não se travestia de liberdade para nos subjugar 
pela força do métrico e cuidadoso discurso,
pregações de falsas alegrias e prosperidades,
como vemos hoje em dia, e ainda pior: 
com a nossa ingênua anuência.


EmmyLibra
August 24, 2012 - 10:35pm


Tuesday, August 07, 2012

Finitude

É assim que a vida se vai:  num instante.
E desmaterializa tudo o que sabíamos
Sobre o amor.
Desmaterializa o próprio amor,
Devolvendo -lhe sua essência:
Imaterial, incondicional,
Liberto do conceito sólido e restrito
De um corpo animado.

Vai-se a vida, num instante.
Fica o amor ao etéreo, 
Ao espiritual,
Que guarda em si
A eternidade.


EmmyLibra
Aug 7, 2012 - 8:25 a.m.


Para minha grande 
e inesquecível amiga
Maria (Marie).

Saudades...


Thursday, August 02, 2012

Extremos

Tem horas que morro de saudades.


Tem horas que penso 
Que seria tão mais simples se fizéssemos de conta que nada disso há... 


Tem horas que penso que está tudo errado!


Tem horas que penso que está tudo errado porque não deveria ter começado. 
Tem horas que penso que está tudo errado porque ainda nem começou. 
Tem horas que penso que deveria acabar de vez com tudo... 
Tem horas que penso que se não começar, posso até morrer!


Tem horas que sinto uma saudade imensa de tudo o que ainda nem vivemos. 
Tem horas que o gosto que paira sobre minha língua 
Tem a tua pele impregnada nele. 
Tem horas que o gosto que tenho é de vazio... 
Um vazio tão imenso quanto essa vastidão sem fim que nos separa.. 


Tem horas que penso que a vida é cruel e injusta, 
Porque te põe assim, tão distante de mim... 
Tem horas que penso que ela me preserva.  E também a ti.
Porque tem horas que penso que os mesmos "acasos" que nos trazem
Também, por vezes, nos levam embora,
Sem que jamais preenchamos as lacunas do desejo.


Tem horas que te quero muito.
Tem horas que te quero ainda mais...
Tem horas que me pergunto até onde meu coração conseguirá se arrastar
Em  busca de paz... A paz que esse sentimento louco me roubou
Desde a hora em que morri de amor para renascer em ti.


EmmyLibra
August 2nd, 2012 - 10:55 p.m.





Friday, June 29, 2012

Sobre Deus, homem e religião

Religião é uma impositiva forma de explicar o inexplicável.
Religioso é aquele que, diante da realidade, sente-se pequeno, frágil, impotente, então entrega-se ingenuamente à religião para que lhe dirija os passos, sem jamais sentir-se capaz de  tecer questionamentos, mesmo diante de absurdos. 
Quanto a Deus, não é nem está em nenhum desses dois lados: nem na religião, manipuladora e indecente, nem no seu seguidor que se acovarda diante da vida e não assume suas responsabilidades, seu livre-arbítrio, seus enganos, sua felicidade – fim a que se destina a vida, em suma.
Uma certeza:  Deus está acima dessas coisas mundanas!


EmmyLibra
Jun 29, 2012 - 7 a.m.


Sunday, June 10, 2012

Fôlego

Eu posso morrer de fome, de frio, de solidão. 
Posso morrer de uma tristeza tão dorida, que não me reste nada dessa vontade de vida que tenho agora.
Posso morrer numa praça, rodeada pelas cores das flores, ou num deserto, na caatinga, numa cela de prisão ou sob um viaduto. 
Posso morrer sob o céu estrelado da noite ou sob a chuva fina, ou sob uma tempestade – que seja!
Posso morrer num abismo, daqueles bem profundos, me jogando do precipício, num voo icário.
Posso morrer num leito morno e macio, com um prato de caldo verde fumegando e exalando seus vapores aromáticos numa mesinha ao meu lado.
Posso morrer num revés de sorte, por uma bala perdida, ou por uma espada afiada, separando-me da vida bruscamente.
Posso morrer doendo, sofrendo, agonizando, suando, chorando – lentamente.
Posso morrer num êxtase, num prazer tão intenso, que toda a minha vida se resuma nesse instante.
Posso morrer de tédio, de raiva, de desespero.
Posso findar meus dias num hospício, ou no mar, à deriva.
Posso morrer de amor... Tanto faz!  Eu só quero estar em mim mais do que estive em qualquer outro momento deste durante, que é a vida.
Não quero mesmo é morrer daquela morte que um dia alguém chamou de severina, em que se morre "de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia...”*
Quero estar lúcida, consciente, em meu instante derradeiro.
Quero sentir a brisa, se houver; ou as gotas de chuva, se houver; ou o sol me secando, se houver.
Mas, acima de tudo, quero morrer na hora certa, no tempo de morrer, nunca antes da hora, nunca antes do dia.
– Morrer de véspera, nem pensar!
Melhor:  quero morrer, se possível, no instante seguinte ao ideal.  Quero ter um instante a mais, um fôlego a mais, uma sinapse...
Quero um pensamento último, uma idéia que se cristalize em mim, quando eu me despedir.
– Quão maravilhoso é pensar!  Quanta vida guardada, quantas possibilidades numa boa idéia!
Se um instante a mais me for dado, e meu cérebro produzir um pensamento bom, desses que podem salvar o mundo do desespero e da rotina, ou uma idéia que preserve as baleias do oceano, um projeto inteiro num breve suspiro, então eu terei vivido uma vida a mais, inteirinha, naquele segundo eterno, em que o ponteiro do relógio se demore a mover.
Uma vida inteira ali, vivida de súbito, súbita como o abraço da morte...
Uma segunda vida, uma segunda chance.  Num breve instante – que importa?
Que me importa do que vou morrer, onde vou morrer, em que condições o anjo devastador me encontrará?
Desde que ele não se apresse, que me seja gentil, que traga em si a tolerância desse instante a mais de vida, a generosidade de me permitir uma idéia, um lampejo de luz que aclare minha fronte como um relâmpago, ou mesmo como o leve piscar de um vaga-lume, então eu abraçarei esse anjo sem reservas, sem queixas e sem remorsos, sem raivas nem temores, sem mágoas...
De que me importa do que será feito o meu momento final?  Quero todos os momentos que lhe precedem, um a um, sem poupanças, sem economias.  Todos.  Todos os momentos, precisamente.  Em cada dor ou alegria de que sejam feitos, quero-os todos!
São meus, os momentos, de mais ninguém.
Minha vida é minha.  E assim será, mesmo depois da morte, em cada mover dos ponteiros que se prolongue, guardando em seu percurso a minha história inteira.
Hoje eu sou.  Isso me basta.  Mas jamais me bastará, se meu último instante acontecer em qualquer momento anterior ao devido.  Ou se qualquer dos precedentes me for espoliado.
Posso morrer de amor, de dor, de fome, de frio, de solidão.  Posso morrer aqui, ali, num deserto ou num jardim, sob estrelas ou raios, sob o sol ou sob a chuva – Que importa?
Só preciso daquele tolerante instante a mais, que o anjo me dê.  E do pensamento, da sinapse lúcida e criativa, da boa idéia que salvaria o mundo, as baleias, uma lagartixa...
Quero um lampejo de vida final, para que toda a vida tenha não apenas valido a pena, mas duplicado-se a si mesma, dentro de um breve suspiro...

EmmyLibra
May 30, 2012 - 8:42 a.m.



* Citação extraída do texto Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto.

Thursday, May 03, 2012

Eco

Talvez o meu olhar insistente venha a te incomodar...
Perdoa.

Talvez o meu sentimento um dia te alcance a pele e, roçando-a, te faça uma carícia leve...
Permite...

Talvez o meu pensamento te persiga tanto, que em meus sonhos eu te vá visitar...
Recebe-me sem censuras.

Talvez um dia eu descubra que todo esse sentimento que hoje me move não passava de ilusão...
Deixa-me partir.

Talvez essas palavras jamais encontrem eco em teu coração...
Mesmo assim, lê.

Quem sabe, um dia, elas sejam ao menos uma certeza tua de que alguém te dirigia olhares, te visitava em sonhos, guardava ilusões sobre tua existência. E aquele silêncio, típico do vácuo onde o amor não habita, possa ser quebrado pelo eco tardio dessas palavras...


EmmyLibra
May 3, 2013 - 12:14 p.m.

Transeunte

Ontem eu te amava.
Eras o objeto de veneração dos meus olhos,
O centro das minhas angústias, ao fazer-se ausente,
O centro das minhas convulsões e êxtases, quando em mim.

Hoje és anônima transeunte – talvez nada além disso.

Estarei eu vazia de ti?
Estarei eu livre da obsessão que me guiava
Sempre ao encontro dos teus passos?
Não.  Certamente que não.
Essa é uma pausa que a vida me pede
Para alimentar-se
E para que eu não te mate com meu abraço esmagador.

– É um proteger o ser amado de mim mesma
Que o meu coração providencia, vez em quando.

Mas, em verdade, é um pensamento egoísta a mais:
Se morreres em meu abraço, o que restará?
Morrerei eu também, no vazio que ficará dentro dele
Se te fores embora de mim para sempre,
Também minh'alma se irá de mim
E a vida se irá
E o desejo de viver também se ausentará
E todas as dores amorosas que justificam a vida,
E todos os suspiros que, enfim, me obrigam a respirar,
Mesmo quando daqueles momentos de tormenta 
Em que te afastas
E a vida perde todo o sentido...

Não te vai para sempre de mim, anjo de vida,
Para que do meu espírito atormentado
Não se aproxime o anjo da morte!

Não te vai de mim,
Mesmo que hoje – e apenas hoje, esteja certa!
Sejas apenas anônima transeunte a passar por mim...


EmmyLibra
May 3, 2012 - 7:26 a.m.

Thursday, April 26, 2012

Poemas e cachecóis


Poemas estão para a alma como os cachecóis estão para o corpo:  não nos aquecerão se não nos permitirmos envolver por eles.
Melhor seria se esvaziássemos nossas gavetas – de cachecóis e de poemas – e nelas plantássemos flores.  Teríamos um jardim que se espalharia dentro dos nossos armários, e primaveras que durariam o ano inteiro!
E em nosso jardim haveria borboletas azuis e beija-flores.
– Acaso pode haver mais lindo poema do que a primavera, com todas as cores que a compõem?


EmmyLibra
Apr 26, 2012 – 6:40 a. m.



Saturday, April 21, 2012

Contemplação


O que vejo vai muito além do que digo – ou do que posso dizer.  Talvez porque não seria correto.  Ou, melhor dizendo, correto até poderia ser, mas certamente não seria conveniente. 
Verdades, às vezes, ficam guardadas para que não nos firam ou exponham, não nos obriguem a outras e outras verdades que passarão à imprescindibilidade a partir da primeira fala.
Assim o é.  Digo o que convém, já que o que há de mais profundo em mim exigiria outras exposições que não me levariam a nada que se possa chamar de adequado.
Contemplo a beleza e emudeço.  Diante do que me inspira transpor limites "seguros" ou que poderia me tomar a sanidade nas decisões, eu simplesmente calo, guardando em mim e para mim o êxtase na contemplação silente. 
Dese modo, mesmo precisando castrar meus verbos e abafar o descompasso que me desarticula, eu consigo preservar a imagem de sanidade que me permite continuar no direito dessa contemplação.  Parecer sã é, nessas horas, mais importante e válido do que, propriamente, o ser.
Passará diante de mim o objeto do meu sonho, dia após dia, e continuarei sonhando, sem jamais pensar que virá a ser realidade em qualquer futuro. Assim, permanecerei vivendo sem ilusões amorosas, sem esperas angustiantes.  Acho mesmo que já passei da idade para acreditar que posso me alimentar de farsas!
Mas continuarei escrevendo cartas amorosas que jamais serão entregues. Elas serão suaves manifestações desse sentimento doce que me preenche e, enquanto guardadas, não ameaçarão a paz de simplesmente contemplar. 
Afinal, contemplar tem sido quase suficiente...

EmmyLibra
Apr 19, 2012 - 12:27 p. m.


Tuesday, April 10, 2012

Volátil

És o ideal 
Que est'alma busca ser e ter.
Mas, és para ela volátil: efêmero perfume
Que se esvai nas brumas
Das incertezas tantas que nascem
Da sua pequenez.


É vão o sonho romântico
Já que tu, olor róseo,
Dissipas-te célere, até com o roçar 
Da mais leve brisa de realidade.


EmmyLibra
Apr 10, 2012 - 8:30 a.m.

Wednesday, April 04, 2012

Para Jorge

Acredito nas forças do Universo que nos conectam. Um dia, espero em Deus poder te abraçar demorada e carinhosamente, para que possa retribuir um pouco da doce sensação de paz que me fazes sentir quando ouço tua voz ou quando leio o que escreves.
Obrigada por tua vida, que entrelaça-se à minha pelos elos invisíveis do grande amor universal.
Peço a Deus que te abençoe todos os dias. Peço ao Pai que fortaleça esses elos de bons sentimentos e nos dê a chance do abraço que sonho há tanto tempo. Para que minha vida guarde a essência de eternidade que nele reside.
Toda paz, meu lindo anjo! 
Continua na incansável busca pela humanidade que há em cada um de nós, porque eu sei que é dessa humanidade que teus sonhos se alimentam.


EmmyLibra
Apr 4, 2012 

Monday, March 12, 2012

Prefácio


Se é pra morrer, que seja de amor...
Morrer de doença é pequeno demais pra mim!


EmmyLibra
Mar 12, 2012 - 10:50 p.m.

Wednesday, March 07, 2012

Presente do pretérito: uma nova conjugação

Memórias transportam-me através do tempo 
a felicidades pequenas e grandes, alegrias de outrora, 
cheiros, pensamentos, solidões – doces solidões, boas de reviver.

Isso é a cara do passado, 
mas de um passado que vale a pena
– o que eu quero comigo em seus frutos tantos: 
esse tempo presente, claro e farto. 


EmmyLibra
Mar 7, 2012 - 6:05 p.m.

Como bolhas de sabão


Há algo flutuando entre a tua língua
E o céu da tua boca.
Flutuando...
Como flutuam os astros
– Estrelas no fundo escuro do céu
E bolhas de sabão
E pensamentos bons.

Há algo flutuando
E pairando nas periferias da tua pele
Saltando de dentro para fora
Exalando-se.

Há palavras soltas
Nascendo em tua garganta
Buscando as saídas
As portas do teu ser
A luz
O exterior, o extremo
O outro lado – de fora –, do outro
– De um outro que não chega?

Onde guardas as palavras
Quando finda o dia?

Onde guardas os astros,
As bolhas de sabão,
E os pensamentos tantos
Que flutuam entre a tua língua
E o céu da tua boca?

Onde guardas tua verdadeira alma?

EmmyLibra
Mar 7, 2012 – 11:26a.m.

Saturday, February 11, 2012

Fatto a mano



Vê? Eu desenhava!!
Foi feito em 1992.

EmmyLibra
 1992 

Um conselho?

Assuma seus riscos!
Inclusive o de encontrar com algum
ser humano em seu caminho.



EmmyLibra
Feb 10, 2012 - 10:45p.m.


Saturday, November 12, 2011

Poema Torpe


Quis fazer um poema
Torpe
Para descrever-te com palavras obscenas.
Mas a santidade de tuas formas me faz repudiar 
As palavras vulgares que descreveriam um ser mortal qualquer.

Há nobreza nos teus olhos, há paz no teu cheiro.
Mas há também tormentas mil sobre a tua tez. 

Almas se perdem
Para depois consumirem-se por remorsos tantos
Quantos são teus méritos e grandezas,
Só por tentarem dar-te um nome terreno.

Não tens um nome!
Não se pode chamar por palavras
A inefável forma do teu corpo,
Nem a profundidade dos teus verbos,
Menos ainda o sentimento arrebatador que por eles nasce
E que faz uma alma desolada cobiçar a eternidade – ao ver-te.

Não há batismo que substantive plenamente
O que, de tão pleno, não tem princípio nem fim.
– Como, pois, escrever um poema torpe
Para falar do que é sublime?

Revelo-me torpe inteira!

Só de escrever poemas endereçados a ti,
Já te feri a pureza, maculei tua imagem
E desmereci tua existência na minha.

Irrefletidas palavras!
(acabo de renunciar ao Paraíso, eis o poema!)

Palavra nenhuma tem singularidade que baste
Para elevar-me aos tronos do Céu,
Onde descansa tua essência.

Por mais que eu escolha verbos, frases, sentimentos,
Ainda assim, o meu poema é torpe demais
Para que se faça oferta
Neste altar que erijo para ti.

EmmyLibra
Nov 11, 2011 - 2:15 p.m.

Friday, November 11, 2011

Inalcançável




Essa tua beleza estranha,
Indescritível,
Arrebata meus olhos,
Meu espírito, minha boca,
Me faz querer ter ou ser
Algo que me fizesse merecer-te,
Alcançar-te.

Por mais que eu estenda a mão,
Jamais poderei sentir
Qualquer coisa de mornidão
Ou de maciez,
Qualquer pelugem,
Qualquer humanidade...

–As pedras preciosas
São sempre tão frias, tão sólidas...

Assusta-me sentir paixão
Por um cristal, um diamante.
Mas, como sonhar-te
Ou ver-te,
Sem que minh'alma ajoelhe-se
Para contemplar-te?

Então, vivo de contemplação,
Meditando em tua beleza estranha,
Repousando em tua condição inumana,
Surreal.

E desejando, um dia, talvez o abraço da morte,
A alma que este corpo habita poderá libertar-se
Dos alforjes da razão e dos preconceitos tantos
Para sentir-se, enfim, pura
– Suficientemente pura
Para poder tocar-te.

Emmylibra
Nov 10, 2011 - 4:30 p.m.


Thursday, November 10, 2011

Confusão mental

     

Há tantas coisas morando dentro da minha cabeça,
Que está acontecendo uma superpopulação de idéias.
Elas começam a brigar, disputar espaço, buscar notoriedade.
Temo pelo momento em que comecem a ser canibais!
Já pensou?  Idéias engolindo idéias... Que loucura!

Eu vivo assim, no tumulto de tantas vozes gritando,
De tantos desejos, da ansiedade de viver
Não desse viver mais com que tantos sonham,
Mas de viver muito mais coisas ao mesmo tempo.
(Estar nos dois lados, ser múltipla!)

Se isso é insano? Eu nunca vou saber.
– Os loucos não sabem que são loucos, afinal.
Eles apenas sabem que são livres.

Sejam minhas idéias portas para a liberdade, então!
Mesmo que essa liberdade se confunda com insanidade
Diante das convenções nascidas
Das concretas ciências dos homens.
(Das concretas idéias dos homens!)

Abram-se portas! Derrubem-se muralhas!
Eu quero estar onde nunca estive antes:
Nos dois lados do existir.

Talvez, múltipla que eu venha a ser,
Possa dar conta de tantos pensares diferentes.
Processá-los, digeri-los, compreendê-los.
Compreender-me – quem sabe?
Compreender-me.
Para que minhas idéias não se tornem famintas
De espaço e de serem ouvidas.
Que não devorem-se umas às outras.

Entre a loucura e o vazio
Eu prefiro a loucura, com suas inúmeras possibilidades.
Antes a insanidade fértil
Do que a esterilidade doentia e submissa
De viver um padrão, 
Enquanto a vida tem tantas paredes a serem demolidas
E tantos outros ondes e quandos a serem visitados,
Com suas possíveis vivências, seus possíveis aprenderes,
Seus muitos amores,
Seus horizontes sem fim...

Quero estar nos dois lados.  Quero estar em muitos lados!
(Viajar no espaçotempo, cujas fronteiras a vista não alcança.)

Quero estar nos dois lados.  Quero estar em todos os lados!

Por enquanto, as idéias gritam.  É tudo o que sei.
Elas discutem sobre muitas coisas e me transformam por dentro.
Enquanto não começam a devorar-se,
Eu vivo – entre a confusão e o desejo
De ser.  – E de ser múltipla!
De estar onde talvez nunca tenha estado antes.
De visitar a loucura, às vezes
E colher flores em seus jardins.
– Na vastidão imensurável (e amorosa) dos seus jardins.

EmmyLibra
Nov 10, 2011 - 1:04 p.m.

Thursday, October 27, 2011

Ser integral


O importante não é o fato de ser mulher ou homem, 
preto ou branco, cristão ou muçulmano. 
Tudo isso é conceituação, nomenclatura, linguagem.
O que realmente faz diferença é ser indivíduo, 
ser alguém integral, sentir-se integral, sentir-se bem 
não como "algo" que se é, mas como pessoa.

EmmyLibra
Oct 26, 2011  - 11:30 a. m.




A problemática da discriminação não se resume ao fato de a pessoa ser mulher ou ser homem, ser homo ou heterossexual, nem da cor de sua pele, da religião que professa, enfim, de suas origens e escolhas.

Tudo isso é conceito.  É linguagem, nomenclatura.  E é, sobretudo, limitar, com esses conceitos, todo um conjunto de idéias e atitudes.  É tomar o efeito por causa.

O que realmente faz diferença na luta contra qualquer preconceito é cada pessoa se reconhecer como indivíduo, como ser integral. É sentir-se bem, não como mulher ou como homem; nem como gay ou heterossexual; nem como preto, branco, amarelo, índio; nem mesmo como membro de um clã, família ou clube; nem como nordestino ou sulista; tampouco como brasileiro ou estrangeiro. Nada disso faz diferença. O que realmente importa é sentir-se bem como PESSOA.  Ser pessoa.  Amar-se pessoa.  Amar-se.

Ser integral não impede o indivíduo de ter uma identidade que também faça parte de coletividades.  De modo nenhum!  Um eu isolado nem sequer se reconheceria, se individualizaria.

Uma pessoa em comunidade pode ser flexível para incorporar dos grupos aos quais se associa os valores que lhe fortalecem e lhe conferem sensação de segurança e estabilidade.  Mas, para isso, não precisa pertencer a esses grupos na raiz da palavra "pertencimento", ou seja, em seu sentido de propriedade, de tornar o ser humano um objeto, uma coisa.  Pode fazer parte, contribuir e assimilar do social o que lhe faz bem.  Mas não precisa enredar-se ao todo a tal ponto que não mais possa viver fora dele ou que venha a desconhecer-se, anular-se, homogeneizar-se a ele como ingrediente de um bolo!  Sobretudo porque, ao pensarmos que não somos autônomos o bastante para que nossa própria existência se justifique, na verdade temos a ilusão de que o todo é que sentirá nossa falta se o deixarmos, não se manterá de pé sem a nossa presença, sem nossa sustentação. Pensamos que o todo nos enxerga como pilastras nas quais ele se equilibra. E, definitivamente, nós não somos isso.  Nem deveríamos ser!

Como mudar o sentido que o mundo tomou e que nos levou a tantas desigualdades, tanta hostilidade?

Creio que, enquanto educarmos nossos filhos para serem funcionais – ou falando mais adequadamente ao século atual, para serem “multifuncionais” –, enquanto não concentrarmos nossas preocupações em torná-los HUMANOS, completos, sempre estaremos condenando as gerações futuras a serem facilmente alienáveis, manipuláveis, frágeis – como as atuais.  Sempre teremos pessoas subjugando pessoas, pensamentos escravizados, necessidades de clãs, agrupamentos que se baseiam em conceitos fúteis e que se solidarizam em nome de uma tal “segurança” oferecida pelas sociedades, clubes, família ou nação aos quais o sujeito se filia ou nos quais nasceu, e que não é tanto mais do que um “efeito placebo”, tranqüilizante para seus temores.  Falsa segurança contra perigos ilusórios, em suma.


E o que são os preconceitos, senão conceitos que 
alguém antes de mim pensou, converteu em discurso, 
reuniu em ideologias e com elas criou os clãs 
aos quais me agrego, sem questionamentos?


Formar pessoas integrais é formar pessoas capazes de raciocinar, racionalizar, serem mais críticas e menos vulneráveis (ou alienáveis).  Pessoas que até podem associar-se, "pertencer" a qualquer grupo social, porém limitando a própria participação e envolvimento a níveis logicamente ponderados, que não fragilizem a sua individualidade nem sejam capazes de arrastá-las a atos que vão de encontro às suas verdades e aos seus valores primários, apenas para que elas se adeqüem às ideologias seguidas pelo grupo. Que não as manipulem, afinal.

Formar pessoas integrais é, sem dúvida, o grande desafio da raça humana para combater os inúmeros problemas de ordem mental e emocional que, como larvas eclodindo em moscas, também se multiplicam em nossa sociedade, sendo causadores de traumas, temores, síndromes diversas, depressão, loucura.  Na verdade, o simples reconhecimento da necessidade de preparar a juventude para ser capaz de andar com as próprias pernas já é complicado para muitos pais e educadores.  Ainda estão muito arraigados em nós os métodos de ensino científico, cheios de teorias que, se não são inúteis, ao menos deveriam ser tratadas como secundárias ao próprio ser humano – como Ser Humano.  Estamos acostumados a mandar nossos filhos à escola para que eles venham a ter um bom emprego quando adultos. Não para que sejam felizes.

Preconceitos e violências seriam, então, eternos estigmas humanos, graças a todas as escolhas que foram feitas pelos que nos precederam?  Estaríamos predispostos a trocar a roupagem desses preconceitos, geração após geração, sem conseguir extirpá-los do nosso meio?

E se começássemos a repensar o preconceito, não como algo que nos afeta, mas algo que produzimos e reproduzimos de nós para nós mesmos?  E se parássemos de ocupar a posição de vítimas o tempo todo por sermos assim e não de outro jeito, ou por escolhermos esta e não outra forma de vida, esta e não aquela crença, esta e não aquela orientação sexual?  Se parássemos de buscar no outro as palavras que nos ferem e tentássemos OFERECER ao outro palavras nossas que lhe façam conquistar-se a si mesmo, ser também capaz de sentir amor próprio e de ser um todo, uma individualidade, ao invés de um composto estranho feito de partes de uma sociedade cheia de ilusões e desajustes?

Repensar o preconceito como responsabilidade nossa pode ser uma saída, uma solução. Pode até ser mais uma ideologia barata e inútil, uma idiotice.  Mas é, sem dúvida, uma experiência que nos faz mais fortes por dentro, menos suscetíveis a tropeços em insignificantes pedras que, invariavelmente, encontramos em nosso caminho.  Essas pedras são, incontáveis vezes, arranjos nossos, esquecimentos nossos.  São tentativas frustradas de erguer muralhas que nos protejam do outro, do olhar do outro, das opiniões do outro.  E que não se sustentam, por terem como base o movediço solo de nossas próprias idéias, que nada mais são do que o reflexo das idéias desse outro do qual tentamos nos proteger, e que por sua vez é um reflexo de outras tantas idéias frágeis e errôneas, como numa cadeia sem fim!

Preconceitos são muralhas entre os homens e precisam ser derribadas para que o ar circule novamente entre nós.

Precisamos ser unos, para conseguirmos ser células saudáveis a formar o tecido da sociedade.  Enquanto formos instáveis, desconfiados, arredios, violentos, sempre tentaremos enxergar no outro nossas próprias características e buscaremos suas aparentes diferenças para justificar nossa intrínseca intolerância.  
A vida em sociedade nos favorece aprender a conviver, no entanto nos permitimos os distanciamentos, as perseguições.  Ao perder nossa identidade, que é o que verdadeiramente nos faz perceber quão perfeitos somos – ou podemos ser –, também perdemos a condição de perceber no outro sua essência humana, sua perfeição. Reduzimo-lo a "algo", uma coisa qualquer, descartável.  E assim também nos tornamos objetos, partes, peças definitivamente assentadas numa máquina que, de tão pesada, já não consegue mais se mover, apenas range e se arrasta. 

Ontem era o preconceito racial, anteontem era o religioso, hoje é a violência entre gêneros e a homofobia, dentre tantos mais.  Amanhã...?

Amanhã, talvez tenhamos novas atenções e novos clãs, novas teorias e novas formas de discriminar, de subjugar e sermos subjugados.  Talvez.

Talvez não.  Talvez nada disso.  Quem sabe o sujeito integral, finalmente?  Por que não?

Aliás, como é mesmo aquele velho dito popular?  "O futuro a Deus pertence".

A Deus?!



EmmyLibra
Oct 27, 2011 - 7:00 p.m.